Mães que trabalham fora X Doenças dos filhos

Sabem que essa semana eu fiquei refletindo bastante... Talvez por um tempo ter tido babá para o Matheus (e não creche) e a babá ser uma pessoa super compromissada que não faltava e de confiança para ficar com o Matheus doente e eu poder trabalhar, eu ainda não tinha parado mais profundamente para pensar em como nossa sociedade é cruel com a maternidade e principalmente com a maternidade em tempos de filho doente.

Tratei a Gigi com otite e sapinho desde sexta, 20 de março, em casa. Nesse período revezei os períodos em casa com o papai. Rafael ia trabalhar de manhã e eu à tarde. Dei todos os remédios de 8 em 8 para otite e de 6 em 6 para o sapinho, religiosamente. Na quinta-feira, 26, as lesões na boca começaram a ficar piores e na sexta, 27, dia que a Nistatina para o sapinho finalizaria, ela amanheceu com a mucosa interna dos lábios rachadas, com sangue e com bastante dificuldade de comer. Nem fui trabalhar. Combinei com o marido que ficaria com ela o dia todo, até porque ela estava incomodada e bastante agarrada comigo, e levei-a à emergência na impossibilidade de levá-la ao pediatra assistente.

Chegando lá, verificamos que a otite graças a Deus estava curada mas o sapinho não. A médica que me atendeu explicou que podia acontecer, que às vezes o tratamento poderia levar 14 dias e não só 7 e que continuaríamos com o mesmo remédio e periodicidade. Pedi então o atestado e ela falou que não precisava de atestado, que sapinho era uma doença não transmissível, ainda mais nessa altura do tratamento, e ela poderia frequentar a creche...

COMASSIIIIIIM BRASIIIIILLLLL???? Então a menina tá com o humor alterado, visivelmente incomodada, sofrendo com as lesões na boquinha, vai ser exposta a um ambiente naturalmente de menor higiene que em casa e tá tranquilo???

Foi mais ou menos isso que falei com a médica. Ela respondeu: "É, mãezinha, mas infelizmente não posso dar atestado por causa de sapinho."

Não é mãe certamente aquela vaca.

Pensei mais ou menos: "Enfia então esse receituário em algum orifício rugoso do teu corpo", mas respondi: "Ok, já que você não pode fazer nada, sinto muito. Espero que ela não piore". E comecei a rezar pedindo a Deus para que melhorasse. Como Deus é PAI, ela durante o fim de semana melhorou consideravalmente (cortou franjinha, uma mocinha, vcs viram no insta e no face?) e hoje foi pra creche com duas páginas na agenda de recomendação. Coloquei os horários do remédio 1, 7, 13 e 19h para que ela só precise tomar na creche uma vez (13h). E vamos que vamos que com oração, tratamento e muita fé em Deus, até o fim de semana a boquinha estará totalmente curada.

Hoje mais tarde vou levar os dois a um pediatra mais perto da minha casa e pelo plano, porque com dois filhos, né, pagar consulta particular tá puxado. Tomara que dê certo e depois conto. Obrigadão por toda a preocupação e desejos de melhoras. E vamos torcer para que os médicos e os emrpegadores tenham compaixão de todos os pais que precisam cuidar de seus filhos doentes. Ninguém merece a angústia de precisar trabalhar enquanto você sabe que seu filho precisa de você.

Boa semana!

Matheusices: Matheus e o macarrão prata / Matheus e a chave escondida

Matheusinho não gosta nem um pouco de experimentar coisas novas. Descobri que na escola estava comendo macarrão que era uma beleza. Em casa nunca aceitou provar. Eu disse que faria um macarrão de letrinhas e me preparei para fazer o molho (tomate) ou só tipo alho e óleo.

- Filho, como é a cor do macarrão na escola? É branquinho ou meio vermelhinho, meio laranja?
- É prata, mamãe. E não quero macarrão de laranja, por favor. Pode ser o suco mesmo.

Alguém me avisa se vir por aí o macarrão prata? Pago o que for preciso. Grata.

__________________________

Eu hoje procurando a chave de casa. 
Rafael: mas eu tenho certeza de que acabei de ver no buffet, não é possível! 
Eu: Pois é, eu também lembro de ter deixado no buffet...

- Filho, por acaso você viu a chave que estava aqui?
- Não...

Continuamos procurando com mais afinco e ficando mais agoniados, porque estávamos ficando atrasados.

- Achei, mamãe!
- Ah, você achou, filho??? Que bom! Onde estava?
- Dentro do seu tênis.
- Ah, que beleza! Ué, mas quem botou aí???
- Eu não sei...
- Não sabe? Não foi você?
- É, pode ser... 

HAHAHAHAHAHAHA

- Tá bom, filho, tenta achar dinheiro no meu tênis então? Tô precisando.
- Tá bom, mamãe.

Esse tênis da mamãe... quantas coisas ele esconde.

- Mas sério, filho, quando você fizer alguma coisa tem de falar, tá? Não pode dizer que não sabe. Você sabia, sim, que tinha sido você que colocou. Combinado?
- Tá bom, mamãe. :)

Educar dá trabalho...



Essa semana fiz esse selinho para minha página que fez sucesso. A galera concordando, curtindo e compartilhando. Acho difícil discordar dessa afirmação. Educar dá trabalho, é difícil, é chato. Só o resultado é prazeroso, mas a hora da educação mesmo, sabemos que essa não é lá muito prazerosa... até pode ser em algumas vezes que você está ensinando ou dando exemplos numa conversa natural. Mas no conflito, com a criança chorando, testando os limites e experimentando o certo e o errado, não é.

Ontem uma amiga me contou que uma das personagens da novela do horário nobre, a Lília Cabral, refletia sobre o que ela tinha errado na educação de um do filho para que ele se tornasse tão inescrupuloso. Por mais que eu ache que um pouco da índole vem do nascimento e personalidade (não sei quanto exatamente, não estudei mais a fundo o tema), é bom mesmo que estejamos sempre refletindo a qualidade dos nossos exemplos e nossa orientação sobre o certo errado para criarmos melhores cidadãos para o mundo.

Como falo sempre, ninguém é perfeito e nossos defeitos vêm à tona principalmente em momentos de tensão e stress, como aquele choro sem motivo aparente, como uma atitude inesperada quando a criança parece querer te afrontar. Por isso acho que nossa reflexão sobre educação deve ser diária e se achar que errou um dia, tentar fazer diferente no outro, para não chegar ao ponto que chegou a personagem que não se o nome (miajudem) a se questionar depois de sei lá, mais de 30 anos... quando quase sempre já é tarde demais.

Digo isso por experiência própria: Ontem por exemplo foi um dia muito cansativo. Eu estava durante o dia vendo estrelinhas nos olhos, sabe quando você dorme mal e o olho fica meio que pulando e com umas faisquinhas? Estava tonta e aérea, porque, por conta do dente, a Gigi tinha dormido muito mal na noite anterior, passei a madrugada dormindo sentada com ela no colo. Só dormi desde a hora que o relógio despertou para ir à academia (5:30h, não fui), até a hora que o Matheus espontaneamente acordou (umas 7h).

Busquei-os na creche e cheguei à casa já dando várias uvas para o Matheus. Liguei a televisão para esperar a casa do Mickey tentando mantê-lo sentadinho o maior tempo possível porque eu não tinha pique para brincar. Graças a Deus, Giovanna estava bem, mamou e dormiu cedo, mas eu ainda precisava fazer toda a rotina de lavar mamadeiras, arrumar mochila, minha comida do dia seguinte... e estava muito, muito cansada. Eu não pude parar para brincar e conversar com o Matheus. Só um papinho rápido enquanto eu fazia atividades imprescindíveis ao mesmo tempo, mas não parar, olhar nos olhos, sentar no chão e ficar no nível dele, como normalmente faço. Eu acho que fazendo uma autorreflexão do que consegui educar, do que consegui me doar para meus filhos dia a dia, consigo ter consciência do quanto preciso compensar no dia seguinte. 

Reforço sempre que quando escrevo esses textos, não significa que sou dona da verdade. Também preciso de ajuda! E se você tiver sugestões ou críticas, estou sempre aceitando... escrevo dizendo o que faço tentando acertar. Acho que consigo acertar mais na educação com essa reflexão diária sobre o que fiz e o que deixei de fazer, sobre o que penso que fiz errado e como poderia melhorar.

Quando faço essas reflexões, tento também pensar nos últimos acontecimentos cotidianos em que a maternagem está envolvida. Um caso interessante a ser abordado, por exemplo, é o caso da mãe que expôs o filho ao ridículo filmando uma surra nele depois de ele ter deixado na rede um vídeo de relações sexuais com a namorada. Para mim, é difícil não julgar esse tipo de comportamento. Aqui não estou julgando o que o menino fez, atitude nojenta e abominável. Mas o meu texto é materno e sob esse aspecto que quero abordar. Será mesmo que para punir o filho pelo que fez ela precisava colocar um vídeo do filho apanhando na internet? Primeiro, faz uma apologia à violência, segundo a educação deve ser feita com restrição do prazer e não com agressão. O que vai adiantar na educação do filho dela dar uma surra e mostrar pro mundo, gente? Pra mim, não adianta nada. Será que em algum momento ela se perguntou por que ele fez isso? Será que ensinou a respeitar as mulheres desde a infância? Ou ensinou a ser pegador e exibia seu filho como macho? Será que com exemplos ou atitudes não reproduzia um discurso da mulher como objeto sexual? 

Novamente citando a cena da novela, minhas amigas disseram ser tão marcante que fui ver (não curto tv, então não assisti à novela e não sabia que estava nos últimos capítulos, mas gosto de ver a última semana que acho que já me dá boa noção para estar por dentro dos papos rsrsrs). A cena mostrou que a mãe instigou o filho a desejar o poder do pai desde sempre. Será que se não tivesse havido esse estímulo à competição e até mesmo ao ódio contra o pai (pela própria mãe), ele se tornaria o que se tornou?

Entendem que bater "é fácil"? Entendem que a educação é um processo muito mais lento e doloroso, que leva tempo e demanda disponibilidade? 

Falando em disponibilidade e falando de outro episódio recente na tv, em uma enquete do Fantástico, 86% das pessoas acharam maneiro os treinamentos de disciplina para crianças e adolescentes que os tratava com sofrimento e punição todo o tempo, e mais, por outras pessoas. A que ponto chegamos? Terceirizamos a educação? Perdemos o controle? Onde nossa sociedade está errando? Como podemos achar certo (digo podemos porque 86% é um número muito alto, gente, e, se é maioria, é o que domina por sermos democracia) tal grau de violência com nossos filhos, que teoricamente foram concebidos para serem cercados de amor, cuidado e, principalmente, nesse caso, respeito?

O que que vocês acham? Podem me escrever sobre a opinião de vocês sobre esses temas que citei? Como falei, eu também busco aprender dia a dia na maternagem e tenho curiosidade de saber se meus pensamentos estão alinhados aos de quem lê os meus textos, se estou sendo muito "pollyana"... Estou aguardando seus comentários.

Beijocas e bom fim de semana!

Pão 100% Integral Caseiro

Então, queridinhas e queridinhos, vocês me pediram a receita do pão, aqui está. Agora vamos combinar uma coisinha: vocês não reparem na foto tosca, tá bem? Aqui é vida real, amigues; se vocês perceberem, essa é uma foto tirada em cima do papel toalha enquanto eu fazia meu sanduíche de manhã para levar para o trabalho. Então, é isso aí e "lambam os beiços", ou é post com foto tosca ou é foto trabalhada e vocês nem vão ver porque não vou ter tempo de postar. rsrsrs



Coloquei essa foto mais para vocês verem a aparência. É tipo o pão integral que você compra mesmo, mas é 100% integral porque a maioria esmagadora das marcas joga um pouquinho de nada de farinha integral (o que já dá o direito de dizer que é integral) e taca farinha branca que não faz tão bem pra saúde. 

Falando nisso, uma curiosidade, eu li uma entrevista uma vez (que consegui achar no Google, quem quiser, está aqui), com um senhor de 93 anos, médico, contando o segredo de sua longevidade e vitalidade. A entrevista toda é interessante, mas o que quero citar sobre a farinha é que uma das coisas que ele dizia como segredo para a vitalidade é evitar os "3 pós brancos" (já vi também tratarem como "assassinos brancos", já que não são exatamente pós): açúcar, sal e farinha de trigo. 

Esse pão, receita que recebi da nutricionista, é todo integral, só tem a farinha de trigo para dar ponto mas eu nem uso porque tenho a máquina. Se você conseguir disciplina e tempo para fazer seu próprio pão, aconselho muito a compra de uma panificadora caseira, eu comprei na verdade para fazer pães sem contaminação da proteína do leite para amamentar a Gigi mas foi um excelente investimento mesmo sem estar em dieta exclusiva de leite mais. Eu adoro.

Outra coisa é que vou colocar a receita literalmente como ela me passou mas eu nunca usei suplemento em receita. Antes porque eu não podia ter contato com a proteína do leite e o "whey" é a própria. Agora então, meu amigo, que pago duas creches fora todas as contas e com o dólar a R$ 3,14, quando é que eu vou colocar um suplemento (maioria importados) no meio de uma receita de pão, gente? Só se eu fosse doida. Eu tirei o whey e deu tudo certo tacando todo o restante lá dentro da máquina de pão (ingredientes líquidos por baixo e secos por cima). Vamos lá:

PÃO INTEGRAL CASEIRO NUTRI ANETE

INGREDIENTES 

-400 ml de água morna 
-2 scoops de whey 
-25 g de fermento fresco para pão 
-100 ml de azeite de oliva 
-1 colher (sobremesa) de sal 
- 2 colheres (sopa) de açúcar mascavo 
- 1 xícara (chá) de farelo de aveia 
- 1/2 xícara (chá) de gérmen de trigo 
- 1 xícara (café) de semente de chia 
- 2 copos (requeijão) de farinha de trigo integral 
- Farinha de trigo até dar o ponto 

MODO DE PREPARO MANUAL

Em uma vasilha misture o fermento com o açúcar. Acrescente os outros ingredientes. Em uma superfície lisa e enfarinhada sove bem a massa. Deixe crescer até dobrar de volume. Modele os pães e coloque em forma de bolo inglês forrada com papel manteiga. Deixe crescer novamente Leve ao forno.

Ah, se liguem, esse pão fica mais gostoso que o pão integral industrializado mas bem mais massudo. Tipo, eu não consigo comer duas fatias desse como comeria do outro porque seria uma refeição muito farta. Então normalmente uma fatia do tamanho da cestinha da máquina de pão já me satisfaz e eu divido em dois para colocar o recheio. Ele me sustenta bastante sem me deixar empanzinada (acabei de pesquisar que essa palavra existe e eu achava que era invenção da minha vó).  Quem fizer me conta o que achou? Pelos ingredientes vocês podem perceber que é beeem saudável e, podem confiar, também gostoso. :)

Parto (ou não parto) do princípio - final

(Olhem, esse texto ficou gigante, mas esforcei para acabar para ninguém me bater! hahaha)

Para ler as partes anteriores, clique em parte 1, parte 2, parte 3 e/ou parte 4.

Na consulta com a médica que faria a cesariana, expliquei que eu gostaria de entrar em trabalho de parto e que a Giovanna mamasse no peito logo ao nascer. Também não queria que ela fosse aspirada, que passasse nada pelo nariz dela. Ela falou que não havia problema algum em nenhuma das minhas condições e que já avisaria ao pediatra disso, que ele era bastante flexível e bacana.

As consultas continuariam a ser marcadas semanalmente e a próxima seria dia 29 de maio. Nesse meio tempo, aconteceu o aniversário do Matheus (25). Não fiz festa grande, apenas um bolo em casa conosco e os avós. Ainda bem que não preparei nada grandioso, eu precisava me aconchegar na minha família, precisava me entocar, precisava de tranquilidade. Eram meus últimos dias como mãe de um. Os últimos dias dele como filho único. Naquele dia pude observar bem atentamente o meu menininho que perderia o posto de bebê para virar o irmão mais velho.


Fiz uma surpresa para minha mãe também porque ela faria 60 anos no dia seguinte e não comemoraria. Então coloquei bandeirolas escritas Matheus / Mariana e no bolo um andar com "vovó" e outro com "Matheus". Foi simples e usei os personagens da Galinha Pintadinha que já tinha em casa. Ele ficou bastante feliz. :)

O aniversário dele de 2 anos mexeu demais comigo. Ele estava tão feliz, mas tããão feliz e falante, muito empolgado. Nos dias seguintes, comigo já de licença, ele parecia sentir mais forte a presença daquela que viria pra ocupar um lugar como o dele e ficou cada dia mais agarrado. Aquele agarramento, aquela carência, me fez começar a pensar cada dia mais nele. Até então eu pensava nele como nos cuidados, e no amor habitual de mãe pra filho, mas não como um coadjuvante do meu parto. E eu não podia ignorar aquela pessoinha. Por mais que as  protagonistas do parto fôssemos eu e Gigi, aquele personagem era para mim tão especial quanto. Na realidade, com ele eu já conhecia o amor de filho; com ela eu tinha a expectativa do amor de filha. Ele já me era palpável, era um amor tão perfeito que naquela semana depois do dia 25, começou a me preocupar.

O que eu faria com o Matheus? Eu conseguiria entrar em trabalho de parto, ligar pros meus pais irem pra lá ou deixá-lo na casa deles? Como ele se comportaria nisso tudo? Ele ainda era tão novinho... na cesárea dele tinha dado tudo certo, eu tinha um filho lindo! E se eu esperasse entrar em trabalho de parto e algo desse errado? E se a neném morresse tentando nascer enquanto eu me deslocava? Na minha cabeça o nascimento dela pélvica poderia colocar em risco ela mesma e eu, sei lá... eu não tinha medo de nascer no carro, essas coisas que algumas pessoas têm. Se nascesse no carro, ótimo mas nasceu! Mas eu estava com medo porque na minha cabeça por estar pélvica poderia ser mais complicado... E se eu morresse? Como ficaria meu filho?

Eu fiquei realmente atormentada, comparando com o nascimento do Matheus, e comecei a pensar se eu não estava inventando coisas diferentes que poderiam dar errado e ficar culpada pelo resto da vida ou algum passo meu ser fatal. Reforço sempre que pode ser falta de empoderamento, ou desconhecimento, e até falta de informação palpável, porque como falei, informação eu tinha, mas só de escassos relatos na internet pró-parto pélvico.

Comecei naquela semana a ter pensamentos sobre marcar a cesárea eletiva, como foi no nascimento do Matheus, mas não contei para ninguém. Eu mesma me chicoteava por dentro pensando em como seria capaz depois de todos os estudos que vi sobre os benefícios de entrar em trabalho de parto. Eu me sentia péssima. Ao mesmo tempo, meu coração indicava que era o melhor a fazer para o Matheus. E naquele momento (foi mal, Gigi, hoje é igual), ele era a pessoa mais importante da minha vida. Fui para a consulta decidida a agendar o parto com a médica. Na consulta eu estaria com 39 semanas e 2 dias.

Chegando lá, cadê que consegui? Travei e não falei nada. Aqueles pensamentos de julgamento vieram de novo na minha cabeça. Como eu contaria pra todo mundo que não entrei em trabalho de parto? Afinal de contas, quando comentei com algumas pessoas que ia fazer a cesárea pela posição pélvica, a maioria respondeu: "Ah, mas vai pelo menos entrar em trabalho de parto, né? Faz isso." ou comentário afim. Eu não conseguia simplesmente me desligar disso. Sei lá por que cargas d'água, a aprovação das pessoas era muito importante. Como eu mesma me sentia insegura e perdida, um poço de sensibilidade e hormônios, era como se eu sozinha não conseguisse decidir e precisasse que alguém me dissesse: eu te apoio.

Talvez as pessoas me apoiassem, mas eu não conseguia sentir isso. Eu até tinha uma amiga que dizia: "Musinha, você não precisa ficar assim, sua filha está bem, cheia de saúde, isso que importa. Você já pensou que pensando dessa forma pode até passar esse pensamento ruim pra ela como se ela estivesse sendo rejeitada?" Aquilo me deu um nó na garganta e foi quando eu parei de pedir para a Gigi virar insistentemente. Mas essa amiga era totalmente pró-cesárea, então eu não podia contar a opinião dela como imparcial, entendem? Fora que no caso dela mesma, apesar de ter marcado a cesárea, a bolsa estourou antes.

Eu acabava me comparando com minhas amigas próximas e mesmo as que tinham passado por cesárea, tinham entrado em trabalho de parto e me sentia muito mal por pensar em cesárea eletiva. Eu estava muito angustiada e o sentimento da culpa começou a me dominar de uma forma que esse sentimento era maior que todos. Na sexta, dia 30, pensei que já que eu estava daquele jeito, já que eu não conseguia mais ter pensamentos bons e só culpa, que eu fizesse o que achava o melhor pro Matheus e pronto: acabaria logo com aquela angústia do final.

Comecei a agir de forma bastante calculista pensando no Matheus e pensei que sábado (31, o dia seguinte) seria um bom dia para eu ganhar a neném e ele ficar nos meus pais. Ele já tinha ficado algumas vezes lá no final de semana com todos em casa (meus pais e irmão) e não estranharia tanto quanto se fosse um dia de semana. Eu estaria com 39 semanas e 4 dias de gestação.

Liguei para a secretária da médica e perguntei se ela iria fazer algum parto no dia seguinte e se poderia fazer o meu. Ela estranhou minha mudança brusca de comportamento, mas pedi por favor (eu não queria mais voltar atrás, queria acabar com a saga de pélvico e cesárea e blá blá blá) e ela me falou que retornaria em seguida.

Retornou me perguntando se eu poderia me internar na Perinatal de Laranjeiras no dia seguinte ao meio dia. A cesariana poderia ser marcada para 15h. Aceitei, ela novamente me retornou explicando o procedimento de jejum e internação. Liguei para o Rafael e minha mãe comunicando. Fora eles, não avisei a mais ninguém. Meus pais vieram à minha casa buscar o Matheus à noitinha e me despedi não sem um aperto no peito. Essa sensação de deixar o filho é horríveeeeellll, é uma insegurança inimaginável, só passando pra entender, muito pior do que quando se é mãe de primeira viagem.

Minha última foto com ele como filho único

Na hora de dormir, nova crise de choro. Eu de novo comecei a me questionar se eu tinha feito certo, comecei a dizer para o Rafael que eu estava com medo de morrer e de acontecer alguma coisa. Ele falou que eu não tinha motivo de preocupação e nem de choro: que eu tinha uma família em que todos me amavam, que eu seria mãe de um casal de filhos lindos e estava numa família abençoada. Que apostava que uma semana depois a via de parto já não faria mais diferença pra mim e que eu estava envolvida em uma preocupação que não tinha razão de ser. Reforçou que eu só tinha motivos pra sorrir e isso me acalmou. Fiz uma forte oração e por incrível que pareça, dormi a noite inteira bem, acordei só uma vez para fazer xixi.

Abro parênteses para contar uma coisa que eu poderia ter feito diferente. Como falei, não contei pra ninguém, nem amigas nem padrinhos/madrinhas. Não convidei ninguém para estar no vidro da maternidade para ver a Gigi  Naquele momento eu precisava de reclusão, precisava me entregar por inteiro para a minha filha, já que na minha cabeça, eu estava atropelando o nascimento dela e precisava compensar isso. Eu só queria a minha família ali e, como o Matheus não poderia estar, que fôssemos só eu e Rafael para recebermos a Giovanna. Mas por quê foi uma bobagem? Porque se eu não estivesse tão surtada com esses assuntos de normal e cesárea e pensando que o mundo me julgaria e que eu só estava fazendo mal à minha filha, tudo correria na programação normal, eu avisaria a todos, estaria bem psicologicamente e beleza, vida que segue.

Voltando ao relato, no dia 31 acordei com outro ânimo: MINHA FILHA IRIA NASCER! EU SERIA MÃE DE DOIS! Tirei fotos da barriga no quartinho dela antes de sair de casa e fui para a maternidade muito empolgada. Nesse dia, diferentemente da véspera em que eu estava mal, eu quis contar pra todo mundo. Só que uma das minhas comadres fotografaria um batizado de manhã e o Rafael sugeriu que eu não avisasse a ela (o que acarretaria eu também não contar pras outras pessoas) para não atrapalhar a concentração dela e não tirar o protagonismo da batismanda naquele momento. Novo parênteses pra falar que, gente, meti os pés pelas mãos totalmente aqui. Se eu já tinha errado em não avisar antes que tinha marcado o parto, seguir a sugestão do pensamento cartesiano e racional do meu marido só serviu pra deixar a galera próxima que eu não tinha avisado mais chateada, já que tinham acompanhando em tempo quase real até ali, mas assim, depois que eu me retratei, todos entenderam os meus porquês (graças a Deus, porque era tudo gente importante demais pra mim).

Oh a Gigi sentadinha dentro dessa pequena mãe, as malas da maternidade ali no cantinho

Aí, né, fui chamada pelo anestesista lá no saguão da Perinatal pra ir pro quarto e foi tudo rapidão. Depois que eu já estava no quarto, rapidinho fui para a sala de cirurgia, conheci o pediatra, reforcei o fato de querer que ela mamasse no peito ao nascer e de não realizar procedimentos nela que eu julgava invasivos. Então começamos, a médica foi me contando tudo que estava acontecendo... Com isso fui sentindo a diferença de apesar de não estar com uma médica humanizada, estar com uma médica mais humana do que foi no nascimento do Matheus. Ela o tempo todo conduziu a cesárea conversando comigo, colocando o foco na Gio, no nascimento dela, relatando tudo o que estava acontecendo e eu não podia ver, e não conversando sobre o divórcio de uma fulana, fazendo fofoca, como aconteceu naquele 25/05/12. Eu estava me sentindo bem melhor e mentalmente agradecia a Deus por isso. No meio daquele relato, fui surpreendida pelo anúncio

"Agora tá quase... vai nascer..."

Fixei os olhos acima do campo azul e ouvi uma voz mais alta e bastante empolgada

"OLHA AQUI SUA FILHA, MUSA! OLHA A GIOVANNA!"




Nasceu. Às 14:47 do dia 31 de maio de 2014, horário não visto por mim, mas registrado em foto pelo Rafael, nasceu. MINHA FILHA. Comecei a chorar de emoção. Ela era linda, maravilhosa, um espetáculo de bebê que mal parecia que tinha acabado de nascer. Não estava inchada, nem suja quase estava. Era perfeita. Veio direto mamar e senti aquele cheirinho de vérnix gostoso de neonato. Tive vontade de ficar ali para sempre agarrada com aquela neném (muito!) cabeluda, como pude perceber antes de colocarem a touquinha.


Na saída da maternidade só para mostrar quanto cabelo ela tinha desde o nascimento, dá pra ver?

Nasceu pélvica. Mesmo via cesárea, no bebê pélvico o bumbum nasce antes da cabeça e daí a expressão "virado pra lua" ligado à sorte. Antigamente, em casa, com parteiras, e sem condições devidas e possíveis como hoje, era difícil sobreviver a um parto pélvico. Quem conseguisse era um cara de sorte. Não sei se é caso de sorte o dos meus filhos, ambos bebês de bumbum para a lua. Sorte ou não, meu desejo é que sejam como o significado do nome dela, "agraciada por Deus". E já que estamos falando em sorte, certeza eu tinha era da minha. Sinto meus filhos como o significado do nome dele, "presente de Deus".

Foi sem dor, foi sem contração, foi sem surpresa, foi sem trabalho de parto, foi sem estourar a bolsa. Mas não foi sem aquela emoção intensa e indescritível do nascimento. Receber minha filha nos meus braços tornou irrelevante todas as angústias que eu tinha passado. Sei que algumas mães (e não estão erradas, cada um é cada um) demoram a sentir esse amor de cara pelo bebê. Eu das duas vezes consegui me sentir mãe no momento do nascimento. Nasceu em mim um amor daqueles que explodem no peito. No fim das contas, quem estava certa era aquela médica ultrassonografista que tinha chegado a me irritar: "apenas 5% das mães chegam a 37 semanas com um bebê pélvico, hein, e com você foi duas vezes; nossa, foi premiada!" Na ironia e sem saber, foi ela quem disse a maior verdade de todas: Eu fui premiada. Fui não, SOU premiada. Mesmo. MUITO. <3



CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Um dia, conversando com uma amiga, ela citou um exemplo que chamei de "analogia Rio de Janeiro". Explico: Apesar da violência e de todos os percalços, gostamos de morar aqui, gostamos do clima, gostamos dessa vibe, curtimos ser carioca. Isso não significa que obrigamos você a gostar do Rio ou a morar no Rio ou algo parecido. Por gostarmos muito, falamos bem do Rio. Poderíamos citar qualquer outro exemplo de algo que gostamos. Pra falar de outro, vamos lá, se gosto de séries de tv, quero comentar sobre a série, sobre as características de uma e outra, falar sobre o último episódio a que assisti. Isso não significa que você é obrigado a gostar de séries de tv e se não gosta, deve ser respeitado. Mas acho saudável poder conversar disso com você ou, voltando ao Rio, falar das belezas do Rio, dos pontos turísticos, e de todos os pontos positivos (mesmo havendo os negativos, como tudo na vida).

Parto, a fisiologia do parto, as sensações do parto, o pré-parto, o trabalho de parto, os relatos de parto são assuntos fascinantes para quem se interessa, para quem estudou/estuda sobre isso. Os simpatizantes do assunto podem só estar querendo conversar com você ou informá-la sobre uma outra possibilidade (super viável porque é da natureza feminina!) na nossa cultura cesarista brasileira.

Por outro lado, se você defende o parto natural e acha que a mulher não tem o direito de optar pela cesárea porque, como disse Michel Odent no Renascimento do Parto, "não combinou com o bebê a hora de ele nascer" (o que até faz sentido mas não pode ser tão radical), peço que reflita um pouco também sobre um outro prisma. A mãe precisa estar bem para o neném estar bem. Acho que todos concordam com a importância da conexão entre mãe e filho. Relativizando os conceitos, você consegue ter empatia para se colocar no lugar do outro e ver quão difícil pode ter sido tomar uma decisão ou outra. Não foi sem sofrimento que me resignei à cesárea. Mas foi num momento em que vi que enquanto eu estivesse naquela espera angustiada, já não haveria a conexão que eu achava que haveria com minha filha nos meus braços. E pra mim, o mais importante naquele instante era minha conexão amorosa com ela.

Eu graças a Deus tive amigas ativistas ou não, mas com partos naturais recentes que foram fantásticas comigo, sempre estiveram muito abertas a me abraçar e me dar colo nas minhas angústias, sem julgamentos. Isso foi ótimo nos momentos em que o que eu precisava era ser acolhida. Mas também vi muita gente de abordagem agressiva, que em vez de me trazer pro ativismo do parto, me afastou.

Também não julgo a mulher que de cara escolhe a cesárea por qualquer motivo que não um mais aparente como foi o meu caso de bebês pélvicos. Até não vou ser hipócrita, sou humana e acabo julgando coisas do tipo escolha do signo, mas dentro de uma razoabilidade na escolha da cesárea, não me sinto com o menor direito de apontar o dedo. Penso que a mãe precisa estar bem e feliz com sua escolha, é um momento que vai marcar sua vida para sempre: deve haver pelo menos a tentativa de que seja sublime e emocionante para ela. E como o psicológico rege o físico, digo mais: se não estiver bem psicologicamente, acredito que apesar de o corpo da mulher ter sido feito para isso, o processo tende a não funcionar e gerar uma frustração. Se s mãe, mesmo com informação, em nenhum momento consegue conceber que o parto natural é o melhor, não há problema algum, porque nesse caso, a protagonista foi ela e não um médico que a enganou com as já conhecidas e mentirosas desculpas esfarrapadas (cordão enrolado no pescoço, bacia estreita, falta de dilatação e tantos outros daquela lista enorme que com facilidade você encontra no Google). É esse protagonismo, da mãe e do bebê, que eu defendo.

Não sou adepta do budismo, mas me identifico muito com o ensinamento chamado "O Caminho do Meio". Buda ensinou a seus discípulos que os extremos da vida devem ser evitados, que o caminho do meio é a forma de chegar ao equilíbrio. Para citar um ensinamento de Jesus Cristo, que tem mais a ver com minha formação religiosa, acho que em todos os assuntos polêmicos podemos pensar em "amar o próximo como a nós mesmos". Em tempos de intolerância como os que vivemos, penso que traduzir esse "amar o próximo como a nós mesmos" para "praticar a empatia, colocar-se no lugar do outro" já é mais que suficiente.

Não conheço assim tantas letras dele, mas como diria o Zeca Pagodinho, "O dono da dor sabe quanto dói". Precisando de apoio na gestação, na maternidade ou em qualquer campo da vida, me chama nos comentários, me escreve um email, me manda inbox no facebook, enfim, pode segurar a minha mão. Eu estou com você.

Um beijo,


Parto (ou não parto) do princípio - parte 4

Partes anteriores: aqui, aqui e aqui.

Esqueci de falar uma coisa: aquele comentário da ultrassonografista sobre eu ser premiada me soou tão irônico que me deixou meio irritada. Naquele momento eu queria que ela estivesse cefálica e não pélvica. Aí a médica me manda uma dessa? Fui embora meio chateada. 

O "prazo" que eu tinha dado para a Gigi virar para a posição cefálica era a ultra de 37 semanas e pouco. Como ela não tinha virado, eu não era capaz de topar um parto pélvico. A única possibilidade que não tentei foi a versão cefálica externa (vce). Esse procedimento consiste em virar o bebê dentro da barriga por meio de movimentos manuais e pressão no abdômen da mãe. Quando voltei desolada ao consultório da Dra. Bernadette para mostrar a ultra em que ela permanecia pélvica, ela me ofereceu tentar. Mas ela mesma não fazia, era uma amiga, pelo SUS. Eu teria de ir à Niterói dois dias depois à tarde para fazer com essa médica que eu não conhecia. Ela me deixou claro também que não havia garantia de que o bebê continuaria cefálico, que podia desvirar e voltar a ficar sentado. Falei que ia pensar e conversar com meu marido e voltaria lá. 

Ao mesmo tempo, comecei a pesquisar na internet sobre os riscos, que são muito baixos. Em menos de 1% dos casos pode acontecer sangramento vaginal, descolamento prematuro da placenta, cesariana de emergência ou mortalidade perinatal. Encontrei especialmente no site Parto no Brasil a seguinte informação: "Chama a atenção que a taxa de cesariana, apesar de se reduzir significativamente com a VCE, ainda persiste relativamente elevada (em torno de 20%) em mulheres submetidas a VCE bem sucedida, quando comparadas com mulheres com bebês em apresentação cefálica espontânea (taxa de cesárea em torno de 6%) em diversos estudos." 

Isso me desestimulou bastante. Nada era garantido, tudo era incógnita. Eu tenho profunda dificuldade de correr riscos, de mudança, adoro rotina, é do meu perfil de vida mesmo. Conviver com aquela angústia estava me matando. Mas na verdade, o que pesou mais não foram estudos, não foram estatísticas, não foi nada além do lado emocional. Assim minha decisão foi tomada. Apesar de em todos os artigos, a vce ainda se mostrar mais segura que a cesariana, que é uma cirurgia invasiva como todos sabem, eu conhecia 99,99% de mulheres e bebês que haviam passado pela cesariana sem complicação alguma. E não conhecia uma, umazinha sequer, mulher que tivesse passado por uma VCE pra segurar minha mão e dizer: "Vai, Musa, vai dar certo". 

Falando em mulher, naquele momento a mulher mais importante de todas era de onde eu menos tinha apoio. Minha mãe estava morrendo de medo de eu optar pelo parto pélvico. O discurso da minha mãe sempre foi importante demais para mim e eu nunca consegui esconder nada dela, como às vezes me aconselhavam, para não preocupá-la. Aquele medo me paralisava. Era mais um fator que me fazia tipo "obedecê-la", tal qual uma criança que ainda não sabe distinguir o certo do errado. A opinião dela tinha grande peso contra o parto pélvico. O Rafael dizia que me apoiava no que eu escolhesse. E eu estava longe de ter segurança de alguma decisão. Sentia-me perdida e resignei-me a uma nova cesárea.

Como citei em outra parte do texto, eu não queria pagar por uma cesárea particular e me vi de novo sem médica. No meio da gestação, eu cheguei a ir à médica de uma amiga minha do trabalho, pelo plano, que me afirmou que fazia parto normal porque fez a da filha dela (há 11 anos). Como quando cheguei à consulta, fiquei sabendo que o parto normal seria com intervenções (como sempre pelo plano), deixei pra lá e me identifiquei com a Dra. Bernadette, mas era particular. Fora não fazer o parto natural, aquela médica (do plano) tinha me parecido bastante atenciosa e pensei "Cara, vai ter de ser ela. Com 38 semanas, o que eu vou fazer agora? Vamos ver se eu consigo uma consulta lá a essa altura do campeonato."

Simultaneamente eu tinha estado muito envolvida com os grupos pró-parto, em café com doulas, com o ishtar, e vinha assistindo tanto a discursos esclarecedores e acolhedores, como radicais. Quando cheguei a essa decisão, eu só conseguia pensar nos intolerantes. Pensava que seria julgada, eu me sentia fracassada. Fiquei psicologicamente muito abalada mesmo. Mas não tinha o que fazer, se eu não queria um parto pélvico e ela estava sentada não tinha muito para onde ir: era assumir a minha escolha. Consegui a consulta com a outra médica às 38 semanas e cancelei a consulta semanal seguinte com a Dra. Bernadette. Ao mesmo tempo, enviei a ela um email cuja parte reproduzo aqui: 

"Dra. Bernadette,

(...) - Aqui explico mais ou menos que eu não ia mais continuar com ela, pois tinha optado pela cesárea e não iria pagar pela cirurgia, faria pelo plano

Não quis ir à consulta da semana que vem e te falar isso pessoalmente por estar muito sensível. Você é uma profissional incrível, me acompanhou e atendeu em momentos difíceis da gestação, relacionados à saúde, me acolheu já com quase 30 semanas... por isso minha gratidão é infinita.

Sei que muitas ativistas do parto natural me julgariam, diriam que eu estou procurando desculpas para não parir e talvez, inconscientemente, seja. A verdade é que mesmo sabendo que não é determinante a bebê estar pélvica, na minha idade gestacional, estatisticamente, poucos ainda viram. Durante toda a gestação, conversei muito com minha filha e não imaginava que ela ainda chegaria pélvica. Para qualquer um, pode parecer que estou fazendo tempestade em copo d'água do tipo "qual o problema de um bebê pélvico? É o mesmo que estar cefálico". Mas esse fato trouxe à tona meus medos, angústias e tudo mais da gestação anterior, também pélvica.

Obrigada pelo acolhimento, pelo apoio, pelas palavras e pelas muitas vezes que mais do que minha obstetra no pré-natal, você foi uma psicóloga.

Desejo muito sucesso e que Deus abençoe você.

Um beijo,

Musa."

Tive essa resposta:

"Querida,

Fique bem, as escolhas devem ser suas e ninguém deve e pode julgar você. Um grande beijo!

Bernadette"

Com aquele email me senti aliviada. Pelo menos a Dra. Bernadette não tinha ficado chateada e já era algo a menos para eu resolver naquele momento de tanta turbulência. Mas eu ainda tinha muito isso na cabeça, que seria julgada, que eu não estava fazendo bem à minha neném, culpas, culpas e culpas... 

Para me sentir fazer um pouco melhor, comecei a pensar no que tinha me desagradado no parto do Matheus e por que eu tinha criado o bloqueio contra a cesárea para tentar fazer diferente dessa vez. O que mais me incomodou desde sempre foi ele não ter mamado no peito desde que nasceu (Matheus nasceu às 20:25h, só o trouxeram para mamar mais de uma hora da manhã). Eu mal tinha visto meu filho, nosso encontro tinha sido muito curtinho na hora do nascimento. Além disso, pensava que eu também podia entrar em trabalho de parto, não agendar a cesárea para eu pelo menos saber que a hora de ela nascer já estava próxima.

Continua...

Parto (ou não parto) do princípio - parte 3

Se quiser ler as primeiras partes, clique aqui e aqui.

Pode até parecer pra você que minha preocupação pela posição pélvica às 33 semanas era um exagero. Ela ainda tinha tempo de virar. Tinha, sim, mas ela já estava bem grande e isso me preocupava. E mais ainda. O Matheus também foi pélvico. Sabe lá se era alguma coisa do meu organismo ou posição do útero, sei lá, que fazia os nenéns ficarem sentados, gente... Eu ficava bolada, pensando por que eu não gerava de cabeça pra baixo como era comum. 

Na verdade, eu já estava meio que desconfiando porque os tais chutes na costela não aconteciam. Eu sentia uma parada meio dura movendo sempre logo abaixo do peito. Minha esperança era de que fosse o quadril, mas não era. A safadinha estava dando cabeçadas na minha barriga. Aí comecei a pesquisar o que fazer para virar, coisa que eu não tinha feito no Matheus. Na época, eu pensava que bebê sentado significava cesárea, mas não. Sei que é possível até o parto natural, mas claro que não é o comum e eu não queria que fosse assim. 

Basicamente segui as dicas que encontrei nos blogs de duas doulas, Rebeca e Cris. A minha doula, Luciana, tentava me tranquilizar perguntando quais os meus medos. A Dra. Bernadette também. Elas afirmavam durante todo o tempo que não havia diferença entre um parto pélvico e cefálico e me contavam de um caso ou outro que aconteceu. Mas pra mim estava tudo muito distante da minha realidade. Eu não conhecia ninguém que tivesse realizado um parto pélvico para me contar. 

Eu tinha contato com algumas amigas que tiveram seus partos naturais como desejavam, mas todos cefálicos. Minha amiga do trabalho, Silvia, que teve gêmeos, me apoiava sempre a seguir com o parto pélvico e acreditar no meu corpo. Me contava que um dos seus gêmeos que não lembro qual, estava pélvico e deu uma pirueta antes de nascer e tudo deu certo. Essa era uma das amigas que mais me faziam acreditar em mim e no meu poder de parir. Lembro dela me falando que eu estava preocupada mas que a Giovanna ia virar e eu ia chegar contando pra ela "eu pariiiiii". Pra mim ela era uma fortaleza e era importante conversar com ela para me sentir forte. Ao mesmo tempo, eu sabia que ela queria um parto domiciliar que não tinha sido possível por conta do bebê pélvico... que parteiras não realizam partos pélvicos. E eu me questionava: ué, mas se é tão igual o pélvico e o cefálico, por que existe essa restrição então? E as minhocas permaneciam na minha cabeça...

Ao mesmo tempo que tentava me emponderar para meu parto pélvico em potencial, eu comecei a fazer de tudo para a Gigi virar. Se virasse, seria menos uma preocupação. Fiz umas sessões de acupuntura com um médico na Tijuca, que fazia acupuntura no meu pai pra parte da coluna. Ela não virou. Ele afirmou que não era tão experiente nesse ponto e ficou de me dar o contato de um amigo dele que realizava esse tipo de acupuntura no ponto específico do dedo mindinho do pé e que seria batata, ela viraria. Mas nunca tive retorno desse contato. Rodei a internet toda e contatos atrás de algum médico que fizesse a tal acupuntura que viraria neném no Rio de Janeiro, mas não encontrei. Enquanto isso, ia realizando o que podia. 

Cheguei ao final da gestação com o joelho ralado, porque ficava 20 minutos contados brincando de engatinhar com Matheus toda noite já com aquele barrigão. A cabecinha do neném tende a procurar um lugar mais quente, então eu fazia compressas de gelo no alto da barriga e de água quente no pé do útero. Depois de todos dormirem, eu fazia um caminho de luz com a lanterna, casa toda escura, desde o alto ao pé da barriga, indicando o caminho que ela deveria percorrer para virar. Simultaneamente a tudo isso eu ia conversando com a Giovanna, sobre como a mamãe queria ter um parto natural, sobre como seria melhor para ela nascer sem intervenções... só que chegou um determinado momento da gestação, lá pelas 35 semanas que eu não mais conseguia aceitar bem a ideia de parir um bebê pélvico. Eu tinha muito medo do desconhecido. Nunca tive medo da dor. Já passei por umas situações muitos dolorosas, já tive uma complicação de saúde em 2009 e fiquei na uti (ligada ao aparelho urinário, qualquer dia conto essa história), então nunca tive absolutamente o menor medo da dor. Mas eu tinha medo do desconhecido, sei lá, de complicações. 

Vi vídeos de parto mas ainda assim eu tinha medo, passavam coisas pela minha cabeça de sei lá, tipo passar uma perna e a outra ficar presa, e ter de voltar a perna pro bumbum sair primeiro ou o neném sofrer por ficar agarrado com uma perna só. Gente, sei que pode ser o maior absurdo o que tô falando, mas eu tinha medo, ué. Dessas coisas que nos paralisam e não temos como explicar. Então liguei para uma amiga que havia passado por um vbac (Carla) estando com a neném pélvica que virou depois das 30 semanas. Desabafei, falei tudo que estava vivendo psicologicamente... Ela disse que se sentia como eu. Que a médica dela (como a minha) fazia parto normal pélvico mas ela não tinha coragem e que tinha conversado com a neném: que se fosse para nascer de parto normal, ela precisava virar. Eu já conversava mais ou menos com ela pedindo para virar, mas forçar ter a neném sentada de parto natural seria uma violência comigo. Eu não estava nem um pouco segura. Comecei a conversar com muito amor com a minha bebezinha, que ela ficasse à vontade mas deixando claro em palavras e pensamentos que eu queria muito, muito que ela virasse. 

Eu sabia que apenas 5% das gestações chegam a termo (37 semanas) com o bebê pélvico e teria uma ultra com 37 semanas e alguns dias de gestação. Ah, esqueci um detalhe muito importante. Os médicos humanizados no Rio são particulares. Não conheço nenhum por plano de saúde. Então, por mais que eu soubesse que a cesárea também seria de forma humanizada e respeitosa caso eu optasse por isso, eu teria de pagar milhares de reais. Pra mim, deixo claro que pra mim, porque não critico quem faça essa opção, não justificava eu pagar por uma cesárea podendo fazer pelo plano. Eu pagaria quantos reais fossem, mas por um parto natural. 

Chegamos à ultra de mais de 37 semanas, eu estava muito esperançosa. Tinha sentido uma mexida mais forte, os chutes haviam mudando de posição e eu tinha certeza de que ela tinha virado. A Gigi sabia da minha intenção de um parto natural e na minha cabeça iria acontecer tipo no livro "O Segredo". Eu queria o parto cefálico, ela teria virado e eu conseguiria o meu vbac. Afinal de contas, os 2 anos de intervalo entre meus filhos foram muito com base na esperança de conseguir um vbac com mais segurança. Cheguei à Perinatal de Laranjeiras super confiante e adivinhem? Minha intuição de mãe tinha... falhado. 

Ela não tinha virado coisa nenhuma. Respondi à ultrassonografista que não acreditava, porque meu primeiro também tinha ficado sentado. A médica respondeu: "Nossa, você foi premiada. Apenas 5% das gestações chegam a termo com bebê sentado, e você duas vezes?" Saí da sala da ultra e liguei para o Rafael na sala de espera para contar. Meus olhos se encheram de lágrimas. Controlei meu choro porque sabia que não era uma tragédia. Certamente houve pessoas que sairam dali com notícias arrasadoras e com motivos para chorar de verdade. Mas eu não podia controlar a frustração. Eu me sentia impotente e cada vez mais longe de ter o meu parto natural.

Continua...

Vídeo: minha rotina saudável

Oi, gente! Lembram que um dia gravei um vídeo com minha amiga Biessa, do Chez Biessa? Se não viram, tá aqui.

Então, nesse dia ela me sugeriu gravar vídeos relacionados à maternidade para ajudar mães que, como eu, tinham uma rotina puxada e dificuldade de dividir o tempo entre todos os campos da vida. Disse que acharia muito legal eu gravar um vídeo da minha rotina mesmo que fosse com celular só pra dar uma noção. 

Por coincidência, depois que criei a página Mamãe Musa no facebook, recebi algumas mensagens privadas pedindo exatamente isso: um dia de minha rotina em vídeo. 

Como a voz do povo é a voz de Deusss, aqui está. Fiz exatamente do jeito que sou, um vídeo "gente como a gente". Não seco o cabelo com escova porque não dá tempo então é meio desgrenhado. Não tinha feito a sobrancelha há quase um mês, talvez um mês, porque não deu tempo. Um monte de coisa que esqueci que poderia ter feito mas é isso aí, minha nada mole e corrida vida! Hehehe.


Não tenho habilidade nenhuma com programas para edição de vídeo e minha câmera do celular não é lá tão boa, então peço perdão pela qualidade tosca.

Espero que gostem e se, gostarem, deixem sugestões para os próximos. Se não gostarem também, podem falar, tipo "escrever é que é a boa, não apareça nunca mais, mamãe Musa!", "Deus me livre te assistir de novo!" ou coisas do tipo. Aceito bem críticas. Ajudem-me a melhorar. =)

Parto (ou não parto) do princípio - parte 2

Para ler a primeira parte do texto, clique aqui.

A Dra. Bernadette parece aquelas mãezonas italianas. Foi um anjo naquele momento em que eu me sentia perdida e sem médico. Na minha cabeça eu tinha encontrado quem eu precisava para me apoiar. Eu lembro que falava com ela sobre meus medos, angústias e minha dificuldade em me sentir emponderada para um parto natural. Ela sempre me perguntava por quê, que não havia motivo, que era só deixar o corpo conduzir, que as mulheres sabem parir. Mas os pensamentos inseguros continuavam...

Eu conversava com ela sobre tudo. Quando eu me colocava culpas sobre não ter pesquisado para o nascimento do Matheus, por exemplo, ela dizia que não tinha cabimento e que eu não tinha culpa pela cultura da cesárea no Brasil. Que percebia que várias mulheres sentiam isso e que a culpa era do sistema. Que nós éramos vítimas da falta de informação. Tentava me fazer ver que eu estava fazendo o que podia.

O tempo foi passando, eu achando que não daria conta e mais uma vez conversei com ela, dizendo que tinha medo de não conseguir dar o mesmo amor aos dois. Tinha medo de não conseguir sentir o amor descomunal que eu sentia pelo Matheus. Ela, com sua voz rouquinha e ao mesmo tempo tão doce, me encorajava dizendo que era claro que eu daria conta e que desde o momento em que a Gigi nascesse eu veria que besteira foi pensar isso (pausa pra dizer que ela estava certa, certíssima!). E que não era pra eu me sentir mal em relação a esses pensamentos. Que a insegurança era comum. 

Ela, com 3 filhos, inclusive uma xará Giovanna, dizia que a partir do terceiro tudo ficava mais fácil porque você já sabia exatamente o que é ser mãe de mais de um e que o amaria loucamente tal qual ama o primeiro. Mas que estar grávida do segundo psicologicamente era uma merda (sic), já que havia tantas inseguranças quanto no primeiro, mas com relação a outras questões. 

Me contou também que uma vez o pai dela disse: "ai, minha filha, desculpa te falar uma coisa?! Eu tenho uma pena de você... você tá tão acabada, parece aquelas mulheres lá da roça sem acesso a estudo, não era isso que eu queria pra você..." Ela disse que riu, que entendeu o sentimento do pai dela de proteção mas que tinha convicção de que era uma fase que ia passar e não tinha por que se desesperar. 

Isso tudo guardei pra mim, sabem? Foi muito importante saber de uma mãe que passou pelas mesmas inseguranças que eu e, mais uma vez batendo na tecla da sinceridade, tinha coragem de contar, porque se você pergunta a alguém, normalmente a resposta é que não houve nada diferente e que o segundo foi amado desde a concepção do mesmo jeito. No meu caso seria mentir afirmar isso. Eu amava a filha que estava no meu ventre, mas não como o que já me era palpável, ou não como hoje amo.

Chegamos a conversar também sobre a romantização que se faz da gravidez. Ao colocar grávidas de comercial de margarina (tipo algumas) de parâmetro, as que não passam mal, que conseguem fazer tudo a gestação inteira normalmente, que nunca se cansam, que se sentem muito mais lindas, que conversam diariamente com a barriga, que ouvem música clássica... corremos o risco de deixar frustradas as grávidas de novela (tipo eu), as que desmaiam, as que passam mal, as que ficam doentes, as que ficam muito cansadas, as que não têm tanta vontade de conversar com a barriga como têm de brincar com o filho já nascido, isso pra citar só algumas coisas.

Acabei saindo um pouco do assunto foco, mas acho que essa parte pode ajudar alguma mãe não mais de primeira viagem que esteja passando pelo que passei pra saber que não está sozinha.

Voltando ao relato principal, por tudo isso, pela identificação de pensamento, pela segurança que ela me passava, eu estava muito feliz com aquela médica. 

Chegamos a abril, sete meses de gestação, saí de férias no trabalho toda animada. Seria nossa última viagem a 3. Iria primeiro visitar minha vó em Minas e depois faríamos Região dos Lagos perto do Rio porque não dava mais para viajar de avião. Até consegui ir à minha vó, mas ao voltar para o Rio, no segundo dia em Búzios (primeira cidade do tour que faríamos), comecei a sentir muitas dores. Ao que tudo indicava, era uma infecção urinária. 

Como sabia dos perigos desse tipo de infecção para grávida e risco até de parto prematuro, voltei para o Rio e fiquei totalmente de repouso na casa dos meus pais. Minha mãe me ajudou muito e ficou por conta do Matheus com o Rafael. Fui à Dra. Bernadette que me aconselhou a consultar também um urologista. 

Consegui marcar o médico urologista com quem já havia realizado uma cirurgia. Descobri que depois do nosso último encontro ele tinha tido filhos com a mesma diferença de idade dos meus, estavam com 1 e 3. Depois de desabafar sobre a experiência de ser pai de 2 com pouca diferença (inclusive é o médico que cito aqui), ele me passou os antibióticos que eu poderia tomar para combater a infecção, além do pedido de uma ultra do aparelho urinário. 

No dia seguinte já havia um encaixe para realizar a ultra de urgência. Chegando lá, além de descobrir que durante a gravidez eu tinha ganho de brinde 3 cálculos renais, a surpresa: eu já estava na 33ª semana de gravidez e, assim como o irmão, dentro do útero, a Gigi estava sentada.

Continua...

Parto (ou não parto) do princípio

O título foi um trocadilho porque não sei muito por onde começar. Primeiro porque pensei muito em como escrever esse texto sem prestar um desserviço à humanização dos nascimentos. Gosto de usar humanização dos nascimentos (e não do parto) porque como li em umas palavras da conhecida obstetriz Ana Cristina Duarte, "nem todo parto humanizado é natural ou sem intervenção. Humanização não é tirar a tecnologia. É usá-la para quem precisa, após discussão de riscos e benefícios e após consentimento." Aí fiquei naquela, né, como é que eu escrevo isso...

Então vamos voltar lá no parto do Matheus. Na época eu me senti meio que enganada, sabem? Meio engano da médica, meio culpa minha que não busquei me informar... uma situação na verdade causada pelo sistema de cesarianas no Brasil em que eu apenas reproduzi o comportamento da maioria sem muito me questionar e também porque eu queria ser mãe, nada mais que ser mãe, não importava o jeito que fosse o nascimento. Não sei se vocês lembram que eu descobri que tinha endometriose e é aquilo, né? Eu nunca tinha tentado engravidar pra saber se teria facilidade ou não. 

Eu era crua no assunto e a experiência mais próxima que tinha era a da minha mãe, pró-cesárea. Mas entre o nascimento do Matheus e o da Giovanna aconteceram alguns partos de pessoas próximas e comecei a me interessar... Junto a isso, uma amiga que muito admiro, Fernanda, hoje madrinha da Gio, é estudiosa e defensora ferrenha do parto e começamos a conversar sobre isso. A campanha do filme O Renascimento do Parto estava a todo vapor. Comecei a ler tudo sobre o assunto na internet. De tudo isso misturado, por acreditar ser o melhor para o neném (pra não falar pra mãe também) começou a surgir em mim um  grande desejo de viver a experiência do parto natural, o que pra mim passou a ser o óbvio.

Até mais ou menos a metade da gestação, conheci 2 médicas humanizadas do Rio (ambas particulares) e gostei muito das duas. Foram um amor no consultório e tiraram todas as minhas dúvidas. Só que eu estava tendo um problema de desmaios e queda de pressão intensa, tipo ir a 7X4, e não recebi retorno adequado de atendimento de nenhuma delas. Isso aconteceu em momentos diferentes, uma fui no início da gestação e a outra lá pelas 15 semanas. Precisei pegar o pedido da ultra morfológica com um médico clínico geral pai do meu amigo porque eu não conseguia atendimento.

Eu já estava me sentindo perdida e confusa quando minha amiga Karine (que tinha passado por um vbac e sempre entendia muito minhas angústias) me indicou uma doula com quem muito me identifiquei, a Luciana Fernandes. Muito simpática, solítica, com um atendimento super rápido por qualquer meio de comunicação, principalmente whatsapp que amo. Fechamos que seria ela quem me acompanharia e realmente, conversar com ela sempre me deixava mais tranquila,mas eu ainda não estava totalmente confortável. Não queria me sentir desamparada no atendimento médico.

Um dia, conversando com minha amiga Mayra, ela me indicou a Dra. Bernadette Bousada, que havia auxiliado no parto da amiga dela. Consegui consulta pra mais ou menos depois de um mês. Ela só atendia um dia na semana. Como estava tudo indo bem, ultras sem intercorrências e episódios de me sentir mal menos frequentes, aguardei. Eu já estava na 29ª semana. Foi amor à primeira consulta.

Continua...

Como surgiu minha #maternidadesincera

Antes mesmo de ser mãe, lá no ano do meu casamento, eu li uma reportagem sobre mães que mentem sobre a criação dos filhos e agora, buscando por palavras-chave, consegui encontrar no Google, a quem interessar possa, link aqui.

Os anos passaram, eu virei mãe de um, virei mãe de dois e acho que esqueci desse artigo. Sempre fui uma pessoa do tipo sincera, demais às vezes. Nunca fiz disso motivo pra grosseria (aliás, acho de péssimo tom confundir sinceridade com grosseria), mas tenho certa dificuldade em ser falsa, até quando precisaria ser, escondendo, por exemplo, que não estou gostando de certa situação. Mostro no ato porque meu semblante muda na hora, sou muito transparente. 

Acho que talvez por essa característica, minha vida sempre foi o que chamam de "livro aberto", eu conto as coisas pra quem gosto, gosto da empolgação das pessoas comigo pelos fatos felizes e da solidariedade nos momentos tristes. 

Depois da maternidade, não foi diferente, eu contava e conto o que meus filhos faziam de legal e de nem tão legal assim. Mas passei a perceber que muitas não o faziam... Mandavam fotos cute cute, faziam festinha com as novas gracinhas, compartilhavam as fases do desenvolvimento... mas nunca o que as incomodava. Achava estranho só o meu filho acordar várias vezes à noite, só a minha filha demandar minha atenção o tempo todo a ponto de chorar se a colocar um minuto no chão só pra eu fazer xixi... isso pra citar um só exemplo de cada entre tantos. Mas ué... será então que era eu a diferente? Isso só acontecia comigo? Ou fazendo uma analogia a um ditado popular, seria a grama da mãe vizinha mais verde que a minha? 

Até que um dia na casa de uma amiga que não convém citar o nome, numa ocasião que não vem ao caso, o filho de uma outra amiga cujo nome é ainda melhor evitar, percebi que um dos super bons meninos que só fazia gracinhas e nunca pirraça tinha crises de choro e a chamada birra ainda mais explosivas que o meu tinha.

Tal situação me fez refletir quantas vezes eu tinha me sentido uma péssima mãe ou achado que meu filho estava mais desobediente que a média ou achado que minha filha demandava mais que a média. E me atentou pro fato de como a maioria das mães não são sinceras. E como essa "falsa maternidade" (desculpem o nome pesado, mas entendam como o antônimo de maternidade sincera) faz mal a mães que estão no mesmo barco, gente! 

Eu já fazia alguns posts do tipo no facebook. Lembro de um em que escrevi algo do tipo "Não, não, conselho tutelar. Eu não estou espancando, eu só estou tentando colocar soro no nariz dele" fazendo alusão a um momento em que o Matheus chorava e gritava enquanto eu penava pra consegui colocar soro no nariz dele pra evitar que a gripe continuasse. 

Minha mãe conversou comigo dizendo que não era para eu fazer aquele tipo de post porque parecia que estava mais difícil lidar com meu filho que os outros. Que ela já tinha passado momentos ruins na maternidade, mas ninguém ficou sabendo e quando passou, parecia que os outros que divulgaram suas situações difíceis tinham passado momentos muito piores que ela. Cabe destacar que esses momentos difíceis foram ligados ao meu irmão, né, gente, eu sempre fui um anjo! hahahaha

Brincadeiras à parte, entendo a necessidade dela de defender os netinhos e respeito esse tipo de pensamento, mas não posso concordar. Não posso concordar porque fingir que a maternidade é só cor de rosa, não contar pra ninguém o que de ruim acontece é sonegar uma informação que eu já tenho e que talvez outra mãe não tenha. É deixá-la pensar que não tem preparo pra lidar com seu filho "malcriado" quando ele é, sim, bem criado e só está passando por uma fase que toda criança passa. É fazê-la acreditar talvez que está fazendo alguma coisa errada quando, sem dúvida, ela é a melhor mãe que pode ser. 

Vocês têm alguma dúvida de que amo meus filhos mais do que eu mesma? Não, né? Vocês acham que eu falar das falhas me desabona como mãe? Imagino que nem um pouco, até porque acho que uma mãe ruim não merece leitura nem seguidores.

Então, faço aqui um apelo. Se você fez uma autorreflexão e se encaixou nesse perfil, se omite ou esconde suas fraquezas das outras mães, pare com isso, por favor. Faço o apelo por uma #maternidadesincera porque nossos filhos serão sempre os mais amados do mundo, seja do jeito que for! 

Já que é terça-feira, um desejo abençoado de uma excelente semana para vocês. E aceito sugestões sobre o que escrever. Tem tanta coisa... o que vocês querem primeiro? Respondam nos comentários.

Beijo beijo.
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