Oi minhas muuuuusas! Uma querida seguidora, que nem é mãe ainda, mas que enfrentou o fantasma da depressão pós-parto com a irmã, me pediu para escrever sobre isso. Então lá vou eu falar daquele jeito que gosto de fazer: contando minha experiência. Mas antes, vejam se vocês se reconhecem nessa situação:
"O neném nasceu perfeito, com boa saúde, o pai está feliz, os avós também. Nada aconteceu de errado, a mãe volta com o bebezinho para casa, onde tudo foi preparado para recebê-lo, mas é invadida por uma espécie de melancolia que não sabe explicar. Se esse sentimento for passageiro e desaparecer em alguns dias, não há motivo para preocupação. Seu organismo passou por verdadeiras revoluções hormonais nos últimos tempos que podem ter mexido com o sistema nervoso central. A tristeza pós-parto é quase fisiológica. 50% a 80% das mulheres apresentam certa tristeza, certa disforia e irritabilidade que têm início em geral no terceiro dia depois do parto, dura uma semana, dez, quinze dias no máximo, e desaparece espontaneamente. Já a depressão pós-parto começa algumas semanas depois do nascimento da criança e deixa a mulher incapacitada, com dificuldade de realizar as tarefas do dia a dia. (Retirada do site do Dr. Dráuzio Varella, só para dar uma introdução e estabelecer a diferença entre baby blues e depressão pós-parto).
Todas vocês sabem que meus filhos são os amores da minha vida. E sempre foi assim desde que eles nasceram. Assim também é pra você, pra outra e pra aquela lá que é mãe. Todas as mães com vocação para a maternidade têm verdadeira paixão e adoração pelos filhos, por isso, no início da vida dos pequenos é comum que estejamos completamente envolvidas por um sentimento exclusivo de amor, certo? Errado.
Quem não sentiu, pode não entender, porque o sentimento é o maior amor do mundo, aquele incondicional, mas também solidão, culpa e impotência. Acho que de todas as situações pelas quais passamos na vida essa talvez seja a mais contraditória de todas. Como pode tanto amor e como às vezes precisamos nos controlar pra... não isolar nosso maior objeto de amor na parede?!? Claro que estou exagerando (sempre bom deixar claro) e não estou fazendo nenhuma apologia a esse ato. Estou querendo dizer que se você cometeu é uma criminosa (acho que provavelmente não aconteceu com quem está lendo), mas se você só teve vontade (acho que provavelmente aconteceu com quem está lendo), você é apenas humana.
No momento que meu papel principal passou de filha à mãe, fui acometida por uma grande cobrança sobre se eu conseguiria cuidar bem, se iria dar conta, se seria uma boa mãe para o meu filho. Toda mãe quer ser a melhor mãe para seu filho. Depois que fui mãe, fico muito mais feliz se você disser que sou uma excelente mãe do que se comparar minha beleza à da miss universo ou minha gostosura à de uma dançarina do Faustão. Acho que com a maioria das mães acontece isso também. Chame de vagabunda, mas não critique como mãe! Além disso, eu sentia muita culpa por sentir aquilo, eu me achava egoísta, me sentia cansada, achava que eu precisava estar o tempo todo disponível para meu filho. Ele tinha sido tão desejado! Eu não podia assumir nem para mim mesma o que estava sentindo, que dirá para os outros. Mas por que essa cobrança? Será que seremos piores mães se confessarmos nossos medos, inseguranças e dificuldade de lidar com os problemas dos nossos filhos? Hoje, sem todos os hormônios do puerpério envolvidos, acho que não. Por isso, sinto-me bastante à vontade para me expor e escrever.
Eu até hoje não sei se tive depressão pós-parto. Sei que a tristeza durou bem mais de um mês, mas ao mesmo tempo não me incapacitou de fazer as atividades, como está escrito na descrição do médico acima. A gente sabe que para fechar um diagnóstico é preciso uma avaliação baseada em muitos critérios mais. Também nem acho que valha a pena descobrir isso agora, a essa altura do campeonato, porque já passou, mas a verdade é que, depois que o meu filho nasceu, eu chorei muito e por muito tempo. Chorava muito junto com ele e enquanto ele dormia, eu só conseguia pensar em dormir ou às vezes nem conseguia dormir chorando. Odiava receber telefonemas ou visitas, estava sempre muito indisposta. Nunca tratei ninguém mal pois conseguia entender que a intenção das pessoas era a melhor, mas por dentro eu estava totalmente insatisfeita. Vivia de pijama porque não conseguia nem me trocar. Matheus dormia mal, muito mal, eu não era capaz de acordar antes dele para tomar um banho com calma, por exemplo. Ele picotava a noite com intervalos menores que de hora em hora. Ia pegar no sono quase uma, duas da manhã e sempre, sempre lutava contra o sono, ficava muito irritado.
Lembro que Fofuchinho chegou na época da novela das empreguetes (Cheias de Charme) e quando começava aquela novela, para mim era sinal da noite chegando e das cólicas e melancolia que eu estava por enfrentar. Eu não via a hora daquilo passar, me sentia exausta, me sentia um trapo, não me sentia eu. Primeiro eu não fazia ideia do que ele tinha, os médicos diziam que cólicas eram normais até três meses. Mas aquele choro não era normal. Ele ficou uma noite de 19h às 11h do dia seguinte sem dormir! Isso mesmo, um recém-nascido 15h direto acordado. Só no colo e com intervalos de soneca entrecortadas por muito choro. E o pediatra fofinho me respondendo na mensagem que Luftal adiantaria. Eu podia dar um vidro inteiro de Simeticona que não fazia o menor efeito. Foi uma luta.
Corri muitos pediatras e só parei no que topou investigar comigo o que podia ser e não subestimou as cólicas que eu relatava. Foi então que descobri que ele tinha alergia à proteína do leite da vaca (APLV). Essas cólicas, causadas pela alergia, eram o que o faziam chorar tanto. Ele se contorcia todo, ficava vermelhinho de tanto forçar cada vez que fazia cocô. Mesmo saindo em diarreia, era como se fosse uma senhora prisão de ventre. A dor o fazia se contorcer todo. Ele chorava muito, eu chorava junto. Foi um sofrimento.
No início, quando eles ainda nem sorriem, a gente se satisfaz só de dar de mamar ou colocar o dedo na mãozinha e sentir aquele reflexo fechando para segurar nosso dedo. Isso que me dava força. Olhar meu filho, tão meu. Mas a APLV atrapalhou muito do prazer que eu poderia sentir. Eu amamentava exclusivamente, tinha leite de jorrar longe, então não imaginava que os derivados do leite que eu comia (porque leite mesmo eu nem bebia) passavam através do leite materno fazendo meu fofuchinho chorar dia e noite. É até difícil lembrar disso. Escrever esse texto e lembrar desses momentos estão me trazendo lágrimas aos olhos. Como foi difícil! Sempre que chorava, eu o embalava cantando e chorando junto. Ele se acalmava muito com a música "Amor I love you", da Marisa Monte ou "Como é grande o meu amor por você", do Roberto Carlos, mas, tadinho, tinha dias que sofria tanto que nada conseguia fazer parar de chorar. E eu, por minha vez, acompanhando aquele sofrimento e sem ver uma luz no fim do túnel, me sentia péssima e impotente.
Além disso, apesar de graças a Deus ter conseguido amamentar, eu tive alguns episódios muito dolorosos de mastite. Febre alta, dor no corpo e um terror para amamentar. Como ele chorava muito pelas cólicas, eu amamentava em livre demanda. O peito acalmava e peito ele tinha. Para vocês terem uma ideia, teve um dia em que ele passou uma tarde inteira no peito. A TV estava na Globo e eu amamentei da hora do Vídeo show até a hora de Malhação, passando pelo Vale a pena ver de novo e o filme, sem levantar, sem fazer xixi, só dando o peito porque era o que o acalmava
Por causa disso, eu tive vontade de me isolar. Eu não queria ver ninguém, saí do facebook sob alegação de que estava sem tempo e era mentira. Claro que o tempo era curto, mas a verdade principal é que eu não queria dar oportunidade de me perguntarem como estava o meu neném. O que eu ia responder? "Tadinho, só chora, não consegue nem dormir de tanta dor e eu não faço ideia do que seja, porque claramente ele chora muito mais que o normal." Devo confessar que me preocupavam os julgamentos. Que espécie de mãe seria eu que não conseguia atender ao meu filho? Eu evitava até sair no início da licença porque a qualquer hora poderia começar uma crise de choro. Fora as golfadas. Os refluxos, que só passaram aos 6 meses, eram tão intensos, como vômitos em jato, que eu precisava levar roupa extra para ele e para mim. Tudo isso me paralisava. Pausa para o humor agora: Para vocês terem ideia, quem sabe dessas histórias, e vizinhos que escutavam os constantes choros, não puderam acreditar quando eu disse que a gravidez da Giovanna foi planejada. "Você é doida! Eu achava que você não ia engravidar nunca mais, ainda mais tão rápido!" Mal eles sabiam que eu resolvi foi justamente emendar a fase insone de uma vez. hahahaha. :P
Mas voltando, costumo dizer que uma mãe de um bebê que dorme não consegue conversar com uma mãe de um bebê que não dorme. Uma mãe com um bebê que não tenha nenhum dos problemas gastrointestinais de recém-nascido (cólica, gases ou refluxo) não consegue ter dimensão do que é sofrer com isso. Por isso não devemos apontar o dedo ou julgar uma mãe sobre um problema que não vivemos e, pra falar a verdade, nem mesmo que tenhamos vivido: cada um recebe o problema de uma forma. Só o dono da dor sabe o quanto e como dói.
Graças a Deus, estou aqui para dizer que passou! (musiquinha da vitória) Vivo uma luta diária e um corre corre com meus filhos, me sinto triste às vezes por não ter tempo, como desabafo vez ou outra no blog, mas nada comparado ao puerpério. Quando fico triste é questão de horas e de uma madrugada para dividir um dia do outro e eu me sentir melhor. É uma felicidade muito grande acompanhar as descobertas, criá-los e educá-los. É recompensador sentir o amor deles de volta. Só para não desestimular quem ainda não é mãe, né? Depois do que falei aqui... PODE VIR FAZER PARTE DO GRUPO DAS MULHERES MAIS FELIZES DO MUNDO, AMIGA! Vem que isso passa! E A FELICIDADE DE SER MÃE SE ESTENDE POR TODA SUA VIDA.
Para terminar, digo que tem história da licença da Giovanna também, mas aí já tem outro filho envolvido e merece um post separado. O foco do texto de hoje foi falar abertamente contando o que vivi para que outras mães saibam que essa tristeza e impotência pode acontecer com grande parte das mães. E atinge mais ainda se você se depara com algum problema ou mazela que te tira de órbita, seja como foi o meu caso com a APLV, seja qualquer outro de saúde, sejam as cólicas normais de recém-nascido ou até mesmo família que atrapalha com muitos palpites, por exemplo.
O texto ficaria maior do que já está se eu citasse as várias situações que me encheram de dúvidas, culpas e medos de não ser a mãe que meu bebê precisava que eu fosse. E com qualquer uma pode acontecer: uma mãe que tentou normal e teve de reverter para cesárea, uma mãe que já queria cesárea e teve problema na anestesia. Uma mãe que queria muito amamentar e não conseguiu... São tantas expectativas que criamos na espera do filho, seja o primeiro, o segundo, o enésimo. Não queremos e nem imaginamos que nada vá dar errado. E deve ser assim mesmo, não devemos sofrer por antecipação. Aproveitar a gestação é o melhor que podemos fazer. Mas saber o que pode acontecer depois é importante para que você não se sinta sozinha, caso aconteça com você.
Estatisticamente o baby blues, que não chega a ser depressão, mas essa tristeza e melancolia pós-parto, acontece com 60 a 80% das mulheres, ou seja, a grande verdade é que é mais provável que aconteça do que não aconteça. Se acontecer, lembre-se de que você não é uma pessoa pior por isso. Os hormônios ajudam também nesses sentimentos. Você está enfrentando uma fase de mudanças e adaptações que vai passar. Se não acontecer, ótimo! Curta seu bebê e as maravilhas da maternidade. Se você já é mãe e tiver oportunidade de conversar sobre isso, converse e prepare uma mulher que ainda não é mãe para o lado B, já que não é comum falarem sobre isso. Não é para agourar ou falar de forma estúpida ou assustadora, MUITO MENOS AGIR COMO UM VAMPIRO DE ENERGIA! É para falar, caso haja abertura nesse assunto, como forma de um pré-consolo, no sentido "se acontecer, você não está sozinha". Mostre-se disponível se ela precisar nesse período. É o melhor presente que você pode dar. É nessa fase, onde o bebê recebe todos os mimos e a ex-grávida parece não ter a menor importância para as pessoas, onde ela mais precisa ter atenção.
Espero que esse texto ajude as mães a verem que a imperfeição começa desde o puerpério, mas o que importa é ser uma imperfeição com amor. Sempre tenha isso em mente: o que seu filho vai notar é seu amor. Sinta-se sempre abraçada por mim.
Com amor,
Musa.