Leio de tudo na internet e a palavra desconstrução está presente em muitos artigos. Para mim, refletir e estar propenso a mudar é se desconstruir. É se desconstruir para se construir de novo. Crescemos em um mundo rodeado de preconceitos, de marginalização de minorias, de dedos em riste, de julgamentos. Eu também estou inserida nesse mundo. E, apesar de criar os memes com indicações sobre o que não convém fazer, digamos assim, eu também julgo.
Eu não tenho a menor dificuldade de fazer humor, mas, confesso, preciso me policiar para não julgar. A ideia do humor na minha página começou a partir de minhas próprias reflexões. Percebi como julgava antes de ser mãe e como eu poderia fazer diferente. Percebi que mais do que tudo, preciso praticar a sororidade com outras mulheres. Segundo o dicionário, sororidade é o pacto entre as mulheres que são reconhecidas irmãs, sendo uma dimensão ética, política e prática do feminismo contemporâneo. Eu diria também uma dimensão da maternidade. Praticar a sororidade na maternagem é entender que todas têm o direito às suas escolhas e respeitar isso. É entender que se alguém levanta uma bandeira não é para atacar, mas porque acha aquilo melhor para ela, não necessariamente para você, porque para você, só quem pode saber é você mesma. Cada uma sabe seu limite. Cada uma sabe sua dor. Praticar a sororidade é apenas uma vertente de praticar a empatia, se colocar no lugar do outro, mas de um jeito todo especial, porque esse outro é uma mulher, como eu, como você.
Mas o que isso tem a ver com os palpites que as pessoas dão sem deixar as mães em paz? Cada vez que recebo uma sugestão de uma leitora, eu me pergunto se já não fiz aquilo em algum momento. E pior: muitas vezes, mais do que me perguntar, eu me deparo com algo que já fiz, sim, sem jamais pensar que poderia estar incomodando. Para mim, a pior filosofia de vida é "falem mal mas falem de mim". Eu não quero que falem mal. E, mais ainda, eu quero fazer o bem. Por isso, para citar alguns exemplos aleatoriamente, se antes eu perguntava para um casal que não tem filhos quando vem o neném, se antes eu perguntava a uma grávida sobre preferência de sexo, se antes eu perguntava a uma mãe no puerpério se conseguiu amamentar, se antes eu fazia qualquer tipo de comparação do meu filho com o dos outros, eu já não vou fazer mais. Simplesmente porque eu não quero incomodar.
Isso tudo para dizer que para mim, no meu processo de desconstrução, os memes estão longe de ser indiretas. Os memes são uma forma caricatural de humor (por isso o exagero), mas principalmente, têm me ajudado muito a refletir. É um processo constante de sempre pensar se aquilo poderia ofender. De ponderar se vale a pena falar ou se é melhor calar. De além de me colocar no lugar dos outros, lembrar que os outros são diferentes de mim. Lembrar que por trás de cada pessoa há histórias e às vezes traumas. E que se às vezes para mim não faz o menor sentido se ofender por aquilo, não posso obrigar outra pessoa a pensar como eu. E ela tem, sim, o direito de se sentir ofendida. Cabe a mim me colocar no lugar dela e procurar não ofendê-la. Isso, claro, se eu quiser ser uma pessoa melhor para mim e para os outros.
É comum falar da opressão de minorias. Não sei se mães podem ser tratadas como minorias, mas sem dúvida são um grupo oprimido. São oprimidas se trabalham fora ou não, se alimentam os filhos de forma saudável ou não, se buscaram correta informação sobre o parto ou amamentação... Perceberam que a culpa é sempre da mãe (mulher)? O julgamento é sobre a mulher e não sobre uma sociedade que, além de não informar corretamente, está sempre apontando o dedo. E pior, o julgamento corriqueiramente vem de outra mãe. Então, mais do que pensar em indiretas, em brigas, em tomar partido disso ou daquilo, eu convido você que me lê a se desconstruir comigo. E, depois, ir se reconstruindo buscando sempre se colocar no lugar de uma outra mãe, sem julgar, sem comparar e sabendo que muitas vezes as escolhas são doloridas e nem tão acertadas, mas era o melhor que podiam ter feito no momento. Por experiência própria, fazendo esse exercício no âmbito da maternidade, a gente consegue estender essa prática a outros campos da vida. E também por experiência própria, não julgando e dando amor, é amor que a gente recebe. <3
Esse texto caiu como uma luva pro momento que estou vivendo.
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