Acho que sou uma farsa

Tenho um blog de maternidade e estou em crise com a maternidade. Sou uma farsa. Sou a mamãe Musa, mas tenho sentido uma tremenda falta da Musa. Em princípio e como sempre acontece com todas as mães para conseguirmos sentir menos culpa nos desabafos, devo dizer que amo meus filhos de todo coração e não consigo me imaginar sem eles. Mas considerando que no blog posso expor minha alma, pois sou seguida por outras mães que também veem o lado B da maternidade, vou falar para vocês, está beeeem difícil. 

Sinto que não consigo me organizar. Me sinto no meio do caos. Olho para os lados, tem tanta pendência que não acaba que sinto vontade de sumir, às vezes. O fim de semana passa, pouca coisa produtiva consigo fazer, chega de novo a semana "útil", em que preciso "terceirizar" o cuidado dos meus filhos a uma escola, já que trabalho em horário integral, a rotina me consome e eu acabo não me sentindo boa e por inteiro em nada. Percebo que ainda existe uma condescendência com as mães de recém-nascido - "Tadinha, os primeiros meses são tão difíceis, né?"-, mas se passou essa fase, você não tem mais abono para reclamar. Não. Não são só os primeiros meses os difíceis. 

O Matheus está em uma fase que me pede coisas o tempo todo. O tempo inteiro mesmo. Ouço "mãe/mamãe" em loop infinitas vezes e sempre com um pedido, para não dizer, uma imposição, clássica dos 3 anos. Tem hora que me sinto uma barata tonta porque nem sentar eu consigo. Educo, peço para esperar, volto a falar o que posso e o que não posso fazer, o que pode ser naquela hora ou não. Mas pouco funciona. Aliás, ele até deve absorver alguma coisa imediatamente, mas passam alguns minutos já está pedindo de novo. A Giovanna muitas vezes chora sem eu saber exatamente do que se trata. Na maioria das vezes a gente tenta se conectar e consegue perceber o que é, mas nem sempre, principalmente quando estamos com menos paciência. E nesse caso o choro irrita, incomoda. 

A chuva impediu de sair para dar um passeio. Tinha horas que minha casa parecia um hospício, os dois chorando, os dois gritando. Eu sempre acudo os dois, mas e quando eu choro, quem me acode? Se esperar a sociedade te acolher, minha amiga, você vai se frustrar. Quantas vezes você já ouviu alguém dizer que está em crise com a maternidade? Deve ser, no mínimo, pecado grave. O máximo que a gente escuta é: "Estou um pouco cansada, mas compensa, porque é muito bom ser mãe, né?" ou algo parecido. E diante dessa afirmativa de que a satisfação é infinitamente maior que a insatisfação se perdeu a chance de duas mães desabafarem, darem as mãos, se abraçarem, saberem que não estão sozinhas e que encontraram outra mulher em quem confiar e dizerem que sim, naquele dia, está muito mais difícil do que bom. Mas não. Quem tem de se ninar, se acolher, é você mesma, que precisa respirar fundo, saber que o mundo não para porque você está em crise, exausta e demandada demais e seguir em frente. 

Ontem, eu tinha tanta coisa para fazer na casa e cuidando deles, que, das 6 refeições que eu preciso fazer para ganhar peso (perco com muita facilidade), só consegui fazer 3, mesmo assim a última foi dividida com a Gio, que já tinha comido, mas sempre tem curiosidade no meu prato. Pode acontecer o inverso com você. Você ganhar peso com facilidade e não conseguir perder justamente porque os lanches práticos são os mais calóricos e não dá tempo de fazer algo saudável. De toda forma, quem sai perdendo é a gente, pois as refeições deles estão sempre prontas na hora certa. Minhas unhas passaram o fim de semana descascadas, pois sempre que eu pensava em pegar rapidinho a acetona para tirar, tinha uma prioridade na frente. A casa está entulhada e eu precisava retirar o que eles não usam mais, por exemplo, roupas, sapatos, brinquedos... e nisso o tempo vai passando.

Falando em casa, e a (des)organização da casa??? Vai você desabafar com alguém? Há vários selinhos na internet falando disso. "Minha casa não está arrumada, mas estou muito mais feliz". Eu também estou mais feliz, mas por causa dos filhos, não pela minha casa bagunçada. Vamos separar as coisas. Não me sinto nem um pouco feliz pela casa bagunçada, cheia de farelos e migalhas de pão e biscoito molhados e cuspidos que grudam no chão. Não me sinto feliz por fazer refeições entrecortadas e menores e com menos frequência do que eu gostaria. Não me sinto feliz por só conseguir tomar banho no final do dia e muitas vezes dormir com o cabelo sujo porque já é tarde demais para lavar e secar. Não me sinto feliz por no final de semana precisar acordar cedo até com enxaqueca porque eles acordaram a noite toda e depois conseguirão compensar dormindo de dia, eu não. E eu poderia acrescentar muita coisa, mas o texto ficaria grande e vitimista demais (falando nisso, peço perdão pelo dramalhão, mas é super sincero).

Eu me sinto feliz por ter filhos, mas esses bastidores são penosos, sim. Mantenho o blog/página por mim, porque me satisfaz, justamente para me sentir gente, já que é algo de que gosto, porque de resto, vivo para os filhos. Mesmo assim, há semanas estou tentando fazer vídeos também, porque sei que isso me aproxima dos leitores. Estou há maior tempão prometendo fazer um sobre alergia à proteína do leite da vaca, justamente para ajudar outras mães que passam por isso, por exemplo. Consegui? Não. Há semanas estou tentando criar posts no blog mais enriquecedores, sem serem traduções de texto estrangeiros de que gosto ou desabafos como esse, mas algo útil do tipo "o que fazer com seus filhos em um fim de semana chuvoso?" Consigo tempo? Não. Queria também algum tempo para tomar um vinho e conversar com o marido. Consigo? Não. Eu acho que por conta de eu trabalhar o dia inteiro, o Matheus fica grudado comigo (o que é bom), mas só vai dormir na hora em que eu durmo (o que é ruim). Giovanna dorme coisa de meia hora antes só. Já tentei de tudo, criar rotina, ir para o quarto antes com eles, conversar, contar história, rezar e nas poucas vezes que eu achei que consegui, não dava 15 minutos e pelo menos o Matheus voltava para sala para dizer que queria ficar comigo, isso quando a Giovanna não chorava do quarto porque sentiu que eu não estava mais. Tento aceitar que eles precisam de menos sono do que as tabelas de sono pregam, porque os dois dormem menos, dormem tarde e acordam cedo, tiram uma sonequinha de nada durante o dia, muitas vezes em revezamento, e eu sigo me sentindo exausta. Por esse turbilhão de sentimentos, muitas vezes depois que eles dormem, estou tão sufocada que nem consigo dormir, desabo a chorar.

Ontem aconteceu. O dia acabou, hoje eu teria de trabalhar o dia inteiro e eu não tinha feito metade do que eu queria fazer. Falei para o marido exatamente o que falei acima: "sou uma farsa". Falei que não podia ter um blog de maternidade se eu tinha essas crises. E que não me sentia boa em nada que eu fazia, não me sentia por inteiro, só pequenas partes. Tentando consolar, ele respondeu que o blog fazia sucesso justamente porque eu falava a verdade, que a maternidade não é um comercial de margarina e que era normal essas crises acontecerem com uma boa mãe que acha que está fazendo menos do que gostaria porque meu dia, como de todas as pessoas, só tem 24h. Que postar as alegrias é bem fácil, mas dar a cara a tapa postando as fraquezas era confortar pessoas humanas como eu, e não criar na internet uma vida de dar inveja e... falsa. 

Talvez, como ele falou, eu não seja mesmo uma farsa. Eu não sei, na verdade, qual nome se dá a uma mãe que se sente assim. Mas das coisas que sei, sei que queria ver um filme, acompanhar uma série. Sei que queria ir ao shopping, ir à praia, ir a uma barzinho, mesmo que não fosse pra beber (só bebo vinho), mas pra tomar um abacaxi com hortelã e jogar conversa fora ouvindo uma música. Comprar coisas para mim. Ver tutorais de maquiagem sem interrupções e aprender a ficar mais bonita. Passar cremes no rosto e no corpo todos os dias. Ver fotos de decoração e ter tempo de aplicar na minha casa. Colocar uma mesa posta. Fazer artesanato sem me preocupar em alguém virar a tinta ou colocar na boca e engolir um botão do lado. Costurar. Aprender coisas novas. Cozinhar sem correria. E mais de um monte de coisa que o momento impede. Julguem como quiserem, classifiquem como quiserem, mas eu, mesmo não sendo mais uma mãe de recém-nascido, ainda sinto que meu tempo é de qualquer outra atividade ou pessoa, menos meu. Sinto falta de administrar o meu tempo do meu jeito. Sei que tudo passa e saber disso faz passar minhas crises, mas não posso negar: sinto falta de mim. 

21 comentários:

  1. Te entendo Musa, tem 2 filhos também. O Ian tem 6 anos e o Heitor 2 meses. Acordo de madrugada pra amamentar e tenho que está acordada, animada e paciente às 6:30 pra arrumar o Ian. O marido ajuda? Sim! Mas parece que nunca é como a gente, acabo me irritando e indo fazer.
    Ainda bem que existe seu blog e eu posso me sentir normal e não uma aberração que finge que é mãe. Somos mais reais! Parabéns pelo blog!

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  2. Maravilhoso Musa! Ontem se passava das 23:00 eu estava parecendo uma doida em dia de mudança, entrei no elevador p descer o lixo rezando p ngm me ver naquele estado, banho por tomar, enfim, obvio q nao lavei o cabelo ne. Eh minha amiga, nao eh facil nao. Me estressa as pessoas acharem q temos q ser 100% dispostas para fazer as coisas q elas querem q eu faça, eh um misto de sentimento desesperador, vontade sumir! Final de semana pra mim foi feito pra cansar. E que venha a semana nao eh?! Nao sei o q te dizer, apenas "tamo junto". Um beijo e uma semana abençoada! Tati Belem

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  3. Amiga, sinta - se abraçada e beijada. Também me sinto assim. Pode contar comigo e precisamos marcar aquele almoço. Parabéns pela sinceridade e pelo sucesso. E o mantra da maternidade segue : vai passar... Beijos mil

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  4. Amiga, sinta - se abraçada e beijada. Também me sinto assim. Pode contar comigo e precisamos marcar aquele almoço. Parabéns pela sinceridade e pelo sucesso. E o mantra da maternidade segue : vai passar... Beijos mil

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  5. Achei o seu texto maravilhoso e super sincero!
    Me faz enxergar que nunca estaremos "prontas" para ser mães, porque ter filhos é muito mais difícil do que os livros ensinam!
    Ser mãe é abrir mão, por alguns anos de sua própria vida e, muitas vezes sem direito de reclamar!
    Parabéns pela sinceridade e boa sorte na sua jornada!

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  6. Musa , como mãe dá uma vontade de te abraçar e me consolar junto! A palavra que Você procura é HUMANA, você e nós somos apenas humanas suplicando por um pouquinho de egoísmo pra nós, um dia de relaxamento, livro, vinho, silêncio, bar, praia, pensamento e calma! Um beijo , vai dar tudo certo :)

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  7. Musa , como mãe dá uma vontade de te abraçar e me consolar junto! A palavra que Você procura é HUMANA, você e nós somos apenas humanas suplicando por um pouquinho de egoísmo pra nós, um dia de relaxamento, livro, vinho, silêncio, bar, praia, pensamento e calma! Um beijo , vai dar tudo certo :)

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  8. Nossa, li seu texto em lágrimas... tão eu. É muito difícil... sao sentimentos desesperadores... e vou falar mais uma: São poucos o maridos que possuem a sensibilidade de entender. Ou eu não tirei a sorte grande. Bom, vc não está só. Tamo junta!! Força pra vc é pra todas nós aqui. Bj grande.

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  9. É tão difícil admitir isso! Eu poderia até censura-la por dizer essas coisas! Rs Mas a verdade é que me identifiquei com cada frase sua.
    Tenho uma filha de 5 anos, um bebê de 9 meses e estou grávida de 4 meses. Ainda por cima fraturei o fêmur e estou 'de molho', dependendo dos outros p tudo e me sentindo o pior ser humano do planeta por não conseguir cuidar dos meus pequenos e da casa como sempre faço.
    O que me ajuda a passar todos os perrengues é pensar q um dia isso tudo vai passar... Um dia...!
    E acho que no final o saldo vai ser bastante positivo. :-)

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  10. Quanta dignidade vc me passou! vc é uma mae de verdade. Parece farsa quando nos olhamos no espelho e dialogamos com a nossa humanidade? Nao!! vc está dialogando justamente com o mais verdadeiro e belo que há dentro de vc. Você é esta mae. Está mulher. parabens para o seu desabafo tao cheio de integridade.

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  11. afff...me sinto assim várias vezes e me cobro muito por isso, parece que nao dou mais conta de nada!

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  12. Meu Deus e o que dizer né... tenho 3 filhos um adolescente de 15 anos(Júnior) outro de 4 anos (Enzo) e o caçulinha de 2 anos e meio (Théo) minha vida se tornou um caos total, tem dias que sinto que vou surtar, aí lembro que não posso, engulo o choro e vou a luta.

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  13. Meu Deus e o que dizer né... tenho 3 filhos um adolescente de 15 anos(Júnior) outro de 4 anos (Enzo) e o caçulinha de 2 anos e meio (Théo) minha vida se tornou um caos total, tem dias que sinto que vou surtar, aí lembro que não posso, engulo o choro e vou a luta.

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  14. Meu Deus e o que dizer né... tenho 3 filhos um adolescente de 15 anos(Júnior) outro de 4 anos (Enzo) e o caçulinha de 2 anos e meio (Théo) minha vida se tornou um caos total, tem dias que sinto que vou surtar, aí lembro que não posso, engulo o choro e vou a luta.

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  15. Meu Deus e o que dizer né... tenho 3 filhos um adolescente de 15 anos(Júnior) outro de 4 anos (Enzo) e o caçulinha de 2 anos e meio (Théo) minha vida se tornou um caos total, tem dias que sinto que vou surtar, aí lembro que não posso, engulo o choro e vou a luta.

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  16. Enfim mães que pensam e sentem como eu. Somos humanas, somos mulheres e sentimos sim falta de algumas coisas... A maternidade é maravilhosa, mas acho que temos o direito de sentir cansaço, vontade de ficar mais bonita, de sair com os amigos e etc.
    Ótimo texto Musa, vc colocou aqui o que muitas pensam mas não dizem. Me incluo nessa estatística, afinal "é muito egoísmo pensar só em vc" (foi o que ouvi da minha terapeuta uma vez)

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  17. Ola Musa,
    Nao sou mae mas sou pediatra. Entro sempre em blogs de maes para ler o que mais se fala hoje em dia nesse meio. Ate pq por varias vezes vejo maes nas consultas falando de determidada blogueira. Isso é um martirio pra mim e te digo o pq. Me sinto culpada em 90% dos posts q leio. Olho para a minha familia, a minha rotina e muitas das praticas pregadas n se encaixam nela. E ai me sinto pior por imaginar mulheres que ja sao maes lendo esses textos. Seu blog foi um GRANDE achado, um frescor. Como é maravilhoso encontrar um blog de uma mae que é humana. Como é maravilhoso poder ler sobre esse "lado B " da maternidade que na verdade é o lado real. Sem acusaçoes, sem extremismos, sem generalizacoes. Certamente sera uma leitura que vou recomendar as minhas maes de ambulatorio!!! Parabens!!!

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    1. Oi, Lulu! Fico imensamente feliz de ler comentários como o seu, pois por vezes me pego perguntando se não estou me expondo demais, se não estou reclamando demais... apesar de imaginar que não deve acontecer só comigo. Minha felicidade é não tanto por massagear o ego (também um pouquinho, claro que fico feliz com o reconhecimento, já que é pra ser sincera hahaha), mas principalmente por saber que meu relato ajuda as pessoas a se sentirem melhores, sabendo que não estão sozinhas nessa jornada maravilhosa, mas um tanto quanto pesada, da maternidade. Um beijo e obrigada. :)

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