Mais amor e menos julgamento

No mundo materno existem dois tipos de julgamento: aquele que parece apontar o dedo para quem faz diferente do que a gente fez e aquele que critica sem piedade quem fala abertamente sobre como é difícil ser mãe às vezes. Sobre o primeiro, já existem muitos textos. É sobre o segundo que vou falar.

Outro dia li um artigo sobre maternidade que citava um certo livro, "Eu era uma ótima mãe antes de ter filhos" ou algo parecido, procurei para comprar e estava esgotado. Será que é porque quase a totalidade das mães se identifica com o título? 

Vi também no facebook uma charge com número incrível de curtidas, a de uma criança fazendo pirraça, em que antes de ser mãe a mulher pensava como aquela mãe não fazia nada pra conter aquilo e depois de ser mãe abraçava a outra e falava algo como "fica assim não..." Certamente o sucesso da charge mostrava que em algum momento já pensamos dessa forma, tanto antes quanto depois. 

Eu até achei que isso tinha a ver com ser mãe de primeira viagem e que depois de ser mãe eu já não julgaria mais. Ledo engano. No sétimo mês de gestação da Giovanna, com infecção urinária, fui ao consultório do meu urologista. Ele ainda não sabia da gravidez e tinha filhos com a mesma diferença de idade dos meus, um ano mais velhos. O tempo de consulta foi menor que o tempo de desabafos. Ele parecia estar sufocado e as palavras saiam fluindo como um rio em enchente.

"Nossa, você vai ver a loucura que é. O trabalho não é em dobro, é em triplo, em quádruplo, sei lá. Às vezes minha casa parece um hospício. O mais velho está morrendo de ciúme da mais nova. Várias vezes fiquei tão alucinado que comecei a descontar na minha esposa: 'você não devia ter esquecido de tomar a pílula. Não era hora de ter o segundo agora!' Pra você ter ideia, marcaram pra mim uma viagem em um congresso nos EUA e tô feliz da vida porque vou ter férias de casa. Me colocaram em um voo que com as escalas tava dando 24 horas no total. Liguei pra lá reclamando, dizendo que se não mudassem pra um voo melhor eu não iria. Mentira pura, tá maluco, no estado em que estou eu vou de qualquer jeito, nem que tenha escala lá no Japão pra voltar depois!"

Fiquei assustada, estranhei, pensei: "nossa, que exagero!". Julguei, cuspi pra cima e o cuspe caiu na minha testa.

Nos primeiros meses, naqueles dias de caos, eu só lembrava do Dr. Ricardo dizendo que o trabalho não era dobrado, era muito mais, e que a casa parecia um hospício. Tinha dias em que os dois choravam ao mesmo tempo. Ela, por motivos normais de bebê que não sabe falar. Ele, por ciúme querendo meu colo e pela pirraça clássica do terrible two. Eu, com vontade de me jogar pela janela. E o marido me ironizando dizendo que era pra eu pensar bem porque se eu me jogasse, eu seria culpada por filhos órfaos porque ele também se jogaria já que não tinha a menor condição de sobreviver à loucura sozinho. Alguém tinha de fazer piada no momento tenso. Hoje consigo rir, mas na época me dava ainda mais nervoso e, depois de conseguir acalmá-los, eu chorava de culpa por achar que não estava sendo a mãe que eu queria ser. 

No auge do meu nervosismo, de estar aprendendo a ser mãe de dois, eu estava pensando exatamente como o médico que eu outrora havia julgado. Estava sendo exatamente como ele disse que seria. Quando alguém me contava que estava grávida do segundo, meus pensamentos eram um misto de "parabéns, que felicidade!!!" com "caraca, tá ferrada!". E depois de pensar assim eu muitas vezes desabava em culpa. Algo do tipo 'Eu amo meus filhos mais que tudo, como posso estar pensando assim?' Pra piorar, é difícil alguém que publicamente fale dessa dificuldade em lidar com os sentimentos não tão bons que a maternidade pode provocar de vez em quando. Depois de estar quase surtada com o cansaço de administrar dois bebês praticamente, eu abria as redes sociais e dava de cara apenas com declarações fofinhas, fotos no estilo comercial de margarina e até algumas vezes críticas indiretas a quem reclamava dos percalços da maternidade. Meu alento era uma única amiga que postava algo que estava mais perto da minha realidade com a hashtag #maternidadesincera. Mesmo assim, parecíamos duas em meio a um monte de mães que só tinham coisas boas pra contar: nenhum cansaço, nenhuma sujeira, nada estragando seu imenso prazer com a  maternidade.  Ou éramos mães de quinta categoria ou havia muita mentira e omissão.

Como tenho certeza absoluta de que não sou perfeita mas faço o melhor pelos meus filhos, dou tudo de mim, prefiro pensar que o que acontece é a omissão e vergonha de admitir que somos mães reais.

Pra falar a verdade, no meu meio social, nas minhas rodas de amizade, eu não consigo encontrar uma mãe ruim sequer. Atualmente todo mundo tem filho porque quer, todo mundo mata um leão por dia para fazer o possível e o impossível para ver seu filho feliz e bem criado. Quando erra foi querendo acertar. Mas ainda percebo um grande tabu em falar dos pontos fracos e exibir as dificuldades da maternidade na imensa maioria.

Fazendo analogia a uma profissional, ainda que esta trabalhe com o que ame e seja plenamente realizada, sempre haverá alguma coisinha, por menor que seja, que não causará tanto prazer. Um atleta campeão que tem o esporte como sua vida e ame praticá-lo, certamente deve ficar de saco cheio alguns dias em que precise treinar sem hora pra acabar até que realize tal atividade/movimento com precisão. Por que então a cobrança com as mães? Por que julgamos quem abre o coração para desabafar do lado negro que muitas vezes nos faz querer férias da maternidade para que pudéssemos voltar com mais entusiasmo e por que não, com um amor de mais qualidade? Essa pergunta faço pra mim também. Já aconteceu e certamente em pensamento vai voltar a acontecer. 

Por isso escrevo esse texto como uma forma de lembrete para mim. Desejo que essa reflexão esteja sempre em nosso coração para que não usemos nosso amor só com nossos filhos mas também com as outras mães, que tanto dependem do nosso apoio. Muitas vezes, elas só precisam de mais amor e menos julgamento para que consigam ser a mãe que gostariam de ser.


3 comentários:

  1. Amiga concordo plenamente como o que disse..... Tenho até um exemplo...... Esse domingo eu juro que quase surtei... Cansada de acordar muito cedo e ir dormir muito tarde, até mesmo nos fds... Domingo eu estava um bagaço e mesmo assim cheia de coisas p fazer e sozinha dentro de casa tendo q lhe dar com duas crianças super saudáveis que correm e engatilhando todos os lugares e para completar a minha cabeça está explodindo de tanta dor.... Teve uma hora que os dois ficaram querendo o meu colo e chorando... Foi quando eu parei e gritei CHEGA!! E eles com as carrinhas de assustados de olhos arregalados e prontos para a parte dois da louco que é o CHORO agudo infantil...... Foi aí q eu cai em prantos de soluçar e olhando p eles e abraçando pedindo desculpas.... Conseguiu imaginar a situação? Depois consegui me acalmar e foi aí q consegui aacalmá-los tbm.... Deitei na cama com os dois e o mais velho veio ficou me olhando e fazendo carinho... Foi aí q entre maia uma vezes em pranto...mas dessa vez foi uma mistura de tristeza de ter feito e de felicidade por ele uma criança de 2 anos entender da maneira dele o q eu estava passando naquele momento.... A pena só né olhava e ria....ambos conseguiram me mostrar que mesmo eu tendo perdido a linha, eles continuam me amando. Amiga eu te entendo perfeitamente... E estamos juntas nessa...kkk Bjks amiga e sempre peça a Deus e Nossa Senhora que lhe oriente para ser a melhor mãe que puder.

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  2. Amiga concordo plenamente como o que disse..... Tenho até um exemplo...... Esse domingo eu juro que quase surtei... Cansada de acordar muito cedo e ir dormir muito tarde, até mesmo nos fds... Domingo eu estava um bagaço e mesmo assim cheia de coisas p fazer e sozinha dentro de casa tendo q lhe dar com duas crianças super saudáveis que correm e engatilhando todos os lugares e para completar a minha cabeça está explodindo de tanta dor.... Teve uma hora que os dois ficaram querendo o meu colo e chorando... Foi quando eu parei e gritei CHEGA!! E eles com as carrinhas de assustados de olhos arregalados e prontos para a parte dois da louco que é o CHORO agudo infantil...... Foi aí q eu cai em prantos de soluçar e olhando p eles e abraçando pedindo desculpas.... Conseguiu imaginar a situação? Depois consegui me acalmar e foi aí q consegui aacalmá-los tbm.... Deitei na cama com os dois e o mais velho veio ficou me olhando e fazendo carinho... Foi aí q entre maia uma vezes em pranto...mas dessa vez foi uma mistura de tristeza de ter feito e de felicidade por ele uma criança de 2 anos entender da maneira dele o q eu estava passando naquele momento.... A pena só né olhava e ria....ambos conseguiram me mostrar que mesmo eu tendo perdido a linha, eles continuam me amando. Amiga eu te entendo perfeitamente... E estamos juntas nessa...kkk Bjks amiga e sempre peça a Deus e Nossa Senhora que lhe oriente para ser a melhor mãe que puder.

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