Sabedoria de fofuchinho

Sabem aquele princípio 90/10 de Stephen Covey? Já ouviram falar? Aquele em que 10% da vida estão relacionados com o que se passa com você e os outros 90% estão relacionados com a forma como você reage ao que se passa? Pois é. Ontem senti isso na pele com a maternidade. Lembram aquela crônica do cocô em que eu fiz uma graaaça outro dia? Ontem aconteceu de novo, a mesma coisa, até um pouco menos, e se transformou em crise de choro, muito choro. E o choro era meu. Eu saio carregada com eles da creche. É muita mochila, a própria Gigi no colo. Quando tirei da cadeirinha do carro e vi que tinha acontecido de novo, fiquei chateada. Fiquei pensando se era a fralda que estava mal colocada, se era ela que estava se mexendo demais na cadeirinha que ela odeia e sempre chora... sei lá. Vi aquele cocô caindo de novo pela perna dela e minha blusa. Depois descobri cocô até na orelha. Acho que ela chutou lá pra cima um bocadinho. Tentei subir da garagem para casa rápido e o Matheus me acompanhou. Ao sair do elevador, ele travou. 

- "Filho, vamos logo, sai do elevador, por favor, porque a mamãe está carregada de peso." (voz normal)
- "(cara de paisagem)"
- Filho, por favor, vamos, a Gigi fez cocô e a mamãe tem de limpar, dá licença. (voz mais alterada)
- Não, mamãe, eu vou ficar aqui. (com cara de safado desafiador)
- "Matheus, por favor, sai daí que eu tô cheia de peso, meu filho, a porta do elevador tá pesada também, vem pra cá!"  (voz mais irritada)

Claro que ele não entendia o que era estar pesado e não se sensibilizou com minha situação. Mas resolveu obedecer e saiu devagarzinho. Larguei a porta do elevador (que realmente é pesadíssima, aquelas pantográficas) muito estressada. Entrei em casa e fui limpar a Giovanna. Matheus veio atrás de mim falando: "Mamãe, eu também estou fazendo cocô."

Por ter percebido que ele está disputando a atenção com a irmã, pedi para a professora enviá-lo de fralda para casa, já que ele não estava aceitando ir ao vaso nenhuma vez e a situação de se sujar todo em casa estava frequente. Acho que era quando ele relaxava, na chegada a casa, seu ambiente, e ele acabava fazendo antes mesmo de ir ao vaso. Por isso, ele estava de fralda ontem. No dia da Cocrônica, ele estava sem fralda, a situação foi ainda pior. Mas ontem eu que estava pior.

Meu dia não começou bem por um assunto nada a ver com eles nem com família, depois cheguei no trabalho e o prazo para concluir um processo estava acabando, eu dependia de outras pessoas para isso e não conseguia encontrá-las, o chefe estava cobrando e eu sem ter como entregar, a saudade dos filhos na segunda-feira estava maior por causa do fim de semana intenso, enfim, meu espírito ontem estava mais frágil. Cheguei em casa com muita vontade de abraçá-los, brincar com Matheus, apertar a Gigi, e a minha recepção foi um tanto conturbada. É, filhos não são brinquedo e alteram planos, mesmo que os planos fossem apenas brincar no chão da sala, eu nem estava exigindo tanto assim...

Depois de limpar os dois, deixei a Giovanna na sala para fazer xixi e ela começou a chorar. Tá numa fase de ansiedade de separação tão grande que eu virar as costas pra ela já é um grande drama. Pô, se você tem consciência de que está fazendo o melhor e que só ia atender a uma necessidade fisiológica sua e o neném chora, isso irrita. O choro naturalmente irrita. Não irrita de raiva, são meus filhos, eu os amo, mas me tira do eixo, sabem? Dá aquele nervoso que me faz perder um pouco o controle.

Liguei pro marido perguntando se estava chegando. Ele ainda estava saindo do trabalho. Pedi para que viesse o mais rápido possível porque eu não estava bem. Brinquei mais um pouquinho com eles, cheia de fome, mas não comi para evitar o choro da Giovanna que implorava pela minha onipresença. Matheus pedia sem parar biscoito da vaquinha. Ofereci fruta e ele não quis. Ontem não deu para insistir. Que fosse o biscoito da vaquinha, contanto que sentássemos no chão pra brincar, apenas brincar, sem choro, sem grito, sem escândalos.

Rafael chegou e perguntou se estava tudo bem. Pegou a Gigi e eu desabei. Comecei a chorar. E Gigi também porque tinha saído do meu colo. Ele percebeu que não era uma boa hora pra deixá-la ali e me socorreu. Murmurou com ela algo como: "Não, filhinha, agora você não pode ficar com a mamãe", e foi distraí-la com outra coisa. Nisso Matheus ficou do meu lado: "O que foi, mamãe???" Continuei chorando e não respondi. "O QUE FOI, MAMÃE???" Ele gritou meio desesperado. Continuou: "Você tá dodói?" Lembrei que uma vez li que não devemos chorar perto das crianças porque elas podem pensar que estamos chorando por causa de algo que elas fizeram. Lembrei também do Princípio 90/10 e que eu não estava chorando por causa delas e sim pela forma como eu estava reagindo. Eu não tinha controle sobre o choro da Gio e nem sobre a constante disputa de atenção do Matheus. Estou certa de que faço o que posso para isso não acontecer. Mas haverá dias em que isso vai acontecer independente do que eu faça. E quem vai determinar a minha reação sou eu. Respondi que estava chorando porque estava cansada. Ele retrucou: "Você não está cansada, mamãe. Você está bem." E foi a partir dali que eu fiquei bem mesmo. Obrigada, filho.



4 comentários:

  1. Sabe que relatos desse tipo são um acalanto.
    Creio que toda mãe passa por isso, e não acredito em quem diz que não passa... Mãe de dois entao, se cobra dobrado...
    Com o tempo passei a me perdoar pelos meus dias de estresse e os eventuais ataques de fúria por causa de besteiras. Somos humanas, e cuidar deles é difícil apesar de não nos imaginarmos fazendo mais nada nessa vida!
    Beijão!
    Erica Dalben

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    1. Érica, fico feliz que tenha gostado e comentado. Acho que a gente tem de se apoiar, porque é nos ataques de fúrias quando estamos mais frágeis, não é mesmo? :)
      Beijocas!

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  2. Seus textos são ótimos.
    Acalanto, colo e maternidade sincera.
    As vezes ficava pensando se só eu tinha essa reação.
    Bjs
    Livia

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    Respostas
    1. Livia, claro que não! Pode conversar comigo quando se sentir assim. Certamente eu vou te dizer que também já aconteceu comigo. A sinceridade nesse caso é a melhor forma de abraço. :)
      Beijos!

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Fico feliz quando você comenta!

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