Parto (ou não parto) do princípio - parte 2

Para ler a primeira parte do texto, clique aqui.

A Dra. Bernadette parece aquelas mãezonas italianas. Foi um anjo naquele momento em que eu me sentia perdida e sem médico. Na minha cabeça eu tinha encontrado quem eu precisava para me apoiar. Eu lembro que falava com ela sobre meus medos, angústias e minha dificuldade em me sentir emponderada para um parto natural. Ela sempre me perguntava por quê, que não havia motivo, que era só deixar o corpo conduzir, que as mulheres sabem parir. Mas os pensamentos inseguros continuavam...

Eu conversava com ela sobre tudo. Quando eu me colocava culpas sobre não ter pesquisado para o nascimento do Matheus, por exemplo, ela dizia que não tinha cabimento e que eu não tinha culpa pela cultura da cesárea no Brasil. Que percebia que várias mulheres sentiam isso e que a culpa era do sistema. Que nós éramos vítimas da falta de informação. Tentava me fazer ver que eu estava fazendo o que podia.

O tempo foi passando, eu achando que não daria conta e mais uma vez conversei com ela, dizendo que tinha medo de não conseguir dar o mesmo amor aos dois. Tinha medo de não conseguir sentir o amor descomunal que eu sentia pelo Matheus. Ela, com sua voz rouquinha e ao mesmo tempo tão doce, me encorajava dizendo que era claro que eu daria conta e que desde o momento em que a Gigi nascesse eu veria que besteira foi pensar isso (pausa pra dizer que ela estava certa, certíssima!). E que não era pra eu me sentir mal em relação a esses pensamentos. Que a insegurança era comum. 

Ela, com 3 filhos, inclusive uma xará Giovanna, dizia que a partir do terceiro tudo ficava mais fácil porque você já sabia exatamente o que é ser mãe de mais de um e que o amaria loucamente tal qual ama o primeiro. Mas que estar grávida do segundo psicologicamente era uma merda (sic), já que havia tantas inseguranças quanto no primeiro, mas com relação a outras questões. 

Me contou também que uma vez o pai dela disse: "ai, minha filha, desculpa te falar uma coisa?! Eu tenho uma pena de você... você tá tão acabada, parece aquelas mulheres lá da roça sem acesso a estudo, não era isso que eu queria pra você..." Ela disse que riu, que entendeu o sentimento do pai dela de proteção mas que tinha convicção de que era uma fase que ia passar e não tinha por que se desesperar. 

Isso tudo guardei pra mim, sabem? Foi muito importante saber de uma mãe que passou pelas mesmas inseguranças que eu e, mais uma vez batendo na tecla da sinceridade, tinha coragem de contar, porque se você pergunta a alguém, normalmente a resposta é que não houve nada diferente e que o segundo foi amado desde a concepção do mesmo jeito. No meu caso seria mentir afirmar isso. Eu amava a filha que estava no meu ventre, mas não como o que já me era palpável, ou não como hoje amo.

Chegamos a conversar também sobre a romantização que se faz da gravidez. Ao colocar grávidas de comercial de margarina (tipo algumas) de parâmetro, as que não passam mal, que conseguem fazer tudo a gestação inteira normalmente, que nunca se cansam, que se sentem muito mais lindas, que conversam diariamente com a barriga, que ouvem música clássica... corremos o risco de deixar frustradas as grávidas de novela (tipo eu), as que desmaiam, as que passam mal, as que ficam doentes, as que ficam muito cansadas, as que não têm tanta vontade de conversar com a barriga como têm de brincar com o filho já nascido, isso pra citar só algumas coisas.

Acabei saindo um pouco do assunto foco, mas acho que essa parte pode ajudar alguma mãe não mais de primeira viagem que esteja passando pelo que passei pra saber que não está sozinha.

Voltando ao relato principal, por tudo isso, pela identificação de pensamento, pela segurança que ela me passava, eu estava muito feliz com aquela médica. 

Chegamos a abril, sete meses de gestação, saí de férias no trabalho toda animada. Seria nossa última viagem a 3. Iria primeiro visitar minha vó em Minas e depois faríamos Região dos Lagos perto do Rio porque não dava mais para viajar de avião. Até consegui ir à minha vó, mas ao voltar para o Rio, no segundo dia em Búzios (primeira cidade do tour que faríamos), comecei a sentir muitas dores. Ao que tudo indicava, era uma infecção urinária. 

Como sabia dos perigos desse tipo de infecção para grávida e risco até de parto prematuro, voltei para o Rio e fiquei totalmente de repouso na casa dos meus pais. Minha mãe me ajudou muito e ficou por conta do Matheus com o Rafael. Fui à Dra. Bernadette que me aconselhou a consultar também um urologista. 

Consegui marcar o médico urologista com quem já havia realizado uma cirurgia. Descobri que depois do nosso último encontro ele tinha tido filhos com a mesma diferença de idade dos meus, estavam com 1 e 3. Depois de desabafar sobre a experiência de ser pai de 2 com pouca diferença (inclusive é o médico que cito aqui), ele me passou os antibióticos que eu poderia tomar para combater a infecção, além do pedido de uma ultra do aparelho urinário. 

No dia seguinte já havia um encaixe para realizar a ultra de urgência. Chegando lá, além de descobrir que durante a gravidez eu tinha ganho de brinde 3 cálculos renais, a surpresa: eu já estava na 33ª semana de gravidez e, assim como o irmão, dentro do útero, a Gigi estava sentada.

Continua...

2 comentários:

  1. Laiz Padilha Drummond6 de março de 2015 às 04:14

    Adorando! Mtoooo curiosa pro próximo! Já li muitos relatos da Dr. Bernadette, sempre mto positivos. ��

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