Parto (ou não parto) do princípio - parte 3

Se quiser ler as primeiras partes, clique aqui e aqui.

Pode até parecer pra você que minha preocupação pela posição pélvica às 33 semanas era um exagero. Ela ainda tinha tempo de virar. Tinha, sim, mas ela já estava bem grande e isso me preocupava. E mais ainda. O Matheus também foi pélvico. Sabe lá se era alguma coisa do meu organismo ou posição do útero, sei lá, que fazia os nenéns ficarem sentados, gente... Eu ficava bolada, pensando por que eu não gerava de cabeça pra baixo como era comum. 

Na verdade, eu já estava meio que desconfiando porque os tais chutes na costela não aconteciam. Eu sentia uma parada meio dura movendo sempre logo abaixo do peito. Minha esperança era de que fosse o quadril, mas não era. A safadinha estava dando cabeçadas na minha barriga. Aí comecei a pesquisar o que fazer para virar, coisa que eu não tinha feito no Matheus. Na época, eu pensava que bebê sentado significava cesárea, mas não. Sei que é possível até o parto natural, mas claro que não é o comum e eu não queria que fosse assim. 

Basicamente segui as dicas que encontrei nos blogs de duas doulas, Rebeca e Cris. A minha doula, Luciana, tentava me tranquilizar perguntando quais os meus medos. A Dra. Bernadette também. Elas afirmavam durante todo o tempo que não havia diferença entre um parto pélvico e cefálico e me contavam de um caso ou outro que aconteceu. Mas pra mim estava tudo muito distante da minha realidade. Eu não conhecia ninguém que tivesse realizado um parto pélvico para me contar. 

Eu tinha contato com algumas amigas que tiveram seus partos naturais como desejavam, mas todos cefálicos. Minha amiga do trabalho, Silvia, que teve gêmeos, me apoiava sempre a seguir com o parto pélvico e acreditar no meu corpo. Me contava que um dos seus gêmeos que não lembro qual, estava pélvico e deu uma pirueta antes de nascer e tudo deu certo. Essa era uma das amigas que mais me faziam acreditar em mim e no meu poder de parir. Lembro dela me falando que eu estava preocupada mas que a Giovanna ia virar e eu ia chegar contando pra ela "eu pariiiiii". Pra mim ela era uma fortaleza e era importante conversar com ela para me sentir forte. Ao mesmo tempo, eu sabia que ela queria um parto domiciliar que não tinha sido possível por conta do bebê pélvico... que parteiras não realizam partos pélvicos. E eu me questionava: ué, mas se é tão igual o pélvico e o cefálico, por que existe essa restrição então? E as minhocas permaneciam na minha cabeça...

Ao mesmo tempo que tentava me emponderar para meu parto pélvico em potencial, eu comecei a fazer de tudo para a Gigi virar. Se virasse, seria menos uma preocupação. Fiz umas sessões de acupuntura com um médico na Tijuca, que fazia acupuntura no meu pai pra parte da coluna. Ela não virou. Ele afirmou que não era tão experiente nesse ponto e ficou de me dar o contato de um amigo dele que realizava esse tipo de acupuntura no ponto específico do dedo mindinho do pé e que seria batata, ela viraria. Mas nunca tive retorno desse contato. Rodei a internet toda e contatos atrás de algum médico que fizesse a tal acupuntura que viraria neném no Rio de Janeiro, mas não encontrei. Enquanto isso, ia realizando o que podia. 

Cheguei ao final da gestação com o joelho ralado, porque ficava 20 minutos contados brincando de engatinhar com Matheus toda noite já com aquele barrigão. A cabecinha do neném tende a procurar um lugar mais quente, então eu fazia compressas de gelo no alto da barriga e de água quente no pé do útero. Depois de todos dormirem, eu fazia um caminho de luz com a lanterna, casa toda escura, desde o alto ao pé da barriga, indicando o caminho que ela deveria percorrer para virar. Simultaneamente a tudo isso eu ia conversando com a Giovanna, sobre como a mamãe queria ter um parto natural, sobre como seria melhor para ela nascer sem intervenções... só que chegou um determinado momento da gestação, lá pelas 35 semanas que eu não mais conseguia aceitar bem a ideia de parir um bebê pélvico. Eu tinha muito medo do desconhecido. Nunca tive medo da dor. Já passei por umas situações muitos dolorosas, já tive uma complicação de saúde em 2009 e fiquei na uti (ligada ao aparelho urinário, qualquer dia conto essa história), então nunca tive absolutamente o menor medo da dor. Mas eu tinha medo do desconhecido, sei lá, de complicações. 

Vi vídeos de parto mas ainda assim eu tinha medo, passavam coisas pela minha cabeça de sei lá, tipo passar uma perna e a outra ficar presa, e ter de voltar a perna pro bumbum sair primeiro ou o neném sofrer por ficar agarrado com uma perna só. Gente, sei que pode ser o maior absurdo o que tô falando, mas eu tinha medo, ué. Dessas coisas que nos paralisam e não temos como explicar. Então liguei para uma amiga que havia passado por um vbac (Carla) estando com a neném pélvica que virou depois das 30 semanas. Desabafei, falei tudo que estava vivendo psicologicamente... Ela disse que se sentia como eu. Que a médica dela (como a minha) fazia parto normal pélvico mas ela não tinha coragem e que tinha conversado com a neném: que se fosse para nascer de parto normal, ela precisava virar. Eu já conversava mais ou menos com ela pedindo para virar, mas forçar ter a neném sentada de parto natural seria uma violência comigo. Eu não estava nem um pouco segura. Comecei a conversar com muito amor com a minha bebezinha, que ela ficasse à vontade mas deixando claro em palavras e pensamentos que eu queria muito, muito que ela virasse. 

Eu sabia que apenas 5% das gestações chegam a termo (37 semanas) com o bebê pélvico e teria uma ultra com 37 semanas e alguns dias de gestação. Ah, esqueci um detalhe muito importante. Os médicos humanizados no Rio são particulares. Não conheço nenhum por plano de saúde. Então, por mais que eu soubesse que a cesárea também seria de forma humanizada e respeitosa caso eu optasse por isso, eu teria de pagar milhares de reais. Pra mim, deixo claro que pra mim, porque não critico quem faça essa opção, não justificava eu pagar por uma cesárea podendo fazer pelo plano. Eu pagaria quantos reais fossem, mas por um parto natural. 

Chegamos à ultra de mais de 37 semanas, eu estava muito esperançosa. Tinha sentido uma mexida mais forte, os chutes haviam mudando de posição e eu tinha certeza de que ela tinha virado. A Gigi sabia da minha intenção de um parto natural e na minha cabeça iria acontecer tipo no livro "O Segredo". Eu queria o parto cefálico, ela teria virado e eu conseguiria o meu vbac. Afinal de contas, os 2 anos de intervalo entre meus filhos foram muito com base na esperança de conseguir um vbac com mais segurança. Cheguei à Perinatal de Laranjeiras super confiante e adivinhem? Minha intuição de mãe tinha... falhado. 

Ela não tinha virado coisa nenhuma. Respondi à ultrassonografista que não acreditava, porque meu primeiro também tinha ficado sentado. A médica respondeu: "Nossa, você foi premiada. Apenas 5% das gestações chegam a termo com bebê sentado, e você duas vezes?" Saí da sala da ultra e liguei para o Rafael na sala de espera para contar. Meus olhos se encheram de lágrimas. Controlei meu choro porque sabia que não era uma tragédia. Certamente houve pessoas que sairam dali com notícias arrasadoras e com motivos para chorar de verdade. Mas eu não podia controlar a frustração. Eu me sentia impotente e cada vez mais longe de ter o meu parto natural.

Continua...

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